Gato Fedorento

sábado, setembro 27, 2003

UMA QUESTÃO DE ROMANTISMO:

- E como é que vai a tua relação com a Cristina?
- Acabou.
- Pois, já estava à espera. Fartei-me de te avisar que não lhe davas a atenção que ela precisava.
- Passava o tempo todo a queixar-se de que eu não era romântico.
- Já sabes como é que são as mulheres...
- Mas o que é engraçado é que, no dia em que eu senti que ela estava prestes a acabar comigo, fiz-lhe uma surpresa.
- Não acredito...
- Sim. À tarde, mandei-lhe entregar em casa um ramo de flores exóticas e um vestido que me custou os olhos da cara, com um cartãozinho manuscrito a dizer para estar pronta às oito da noite. Depois, fui buscá-la num descapotável alugado, motorista incluído, e jantámos à luz de velas num restaurante italiano, com vista para o mar. No final da refeição, propus darmos um passeio na praia. Como estava uma brisa fria, despi o meu casaco e cobri-lhe os ombros enregelados. Depois, desafiei-a a ver o que estava dentro de um dos bolsos. Tirou de lá uma caixinha de ourivesaria, abriu-a, e os seus olhos brilharam quase tanto como o anel que ela andava há meses a namorar, a partir da montra.
- E depois meteste a pata na poça, claro.
- Não. Recitei um poema de amor que eu próprio lhe escrevi.
- Então, porque é que acabaram?
- Não sei. De repente, largou-me a mão e foi-se embora. Disse que aquilo era romantismo a mais. Que eu tinha de passar a ser mais espontâneo.


(No próximo fim-de-semana, há mais do mesmo. É uma ameaça.) MG
posted by Gato 9:01 da tarde

O Gato Fedorento tem, a partir de ontem, um espaço no Inimigo Público, o novo suplemento satírico do PÚBLICO que sai às sextas. Aguardam-se as reacções por parte dos puristas dos blogues.
Em relação ao Gato Fedorento na SIC Radical, é pertinente fazer o seguinte esclarecimento: o que está a passar actualmente é apenas um teaser, até o programa original estar pronto. Tenham paciência, porque ninguém escreve dezenas de sketches de um dia para o outro. Normalmente, demora dois dias.
Por fim, depois da imprensa e da televisão, está previsto o lançamento dos Biscoitos Gato Fedorento e do Trem de Cozinha Gato Fedorento, mas isso é mais lá para Novembro.
posted by Gato 8:58 da tarde

quinta-feira, setembro 25, 2003

Hoje, pelas 19h, no Espaço 7 às 9 do CCB (perguntem onde é), RAP e ZDQ vão efectuar stand-up comedy. Trata-se de uma hipótese única de ver os comediantes de quem Seinfeld terá dito: “Nunca ouvi falar”. MG fará as vezes de MC – não, não vai mudar de apelido, vai apresentar o espectáculo.
posted by Gato 12:42 da manhã

quarta-feira, setembro 24, 2003

ELE LÁ SABE: Paulo Portas tem toda a razão quando diz que os imigrantes tiram o emprego aos portugueses. Por exemplo, o Le Pen podia facilmente substituí-lo na liderança do PP, que ninguém dava pela diferença. MG
posted by Gato 11:12 da tarde

SENTA NO HEMICICLO, GASTÃO: Na semana passada, a figura central do panorama político português foi, sem dúvida, o cão de Ferro Rodrigues. Durante vários dias dominou noticiários, ocupou primeiras páginas e alçou a pata a candeeiros. É raro o político que consegue reunir estas três características. Personalidades como Jorge Sampaio, Durão Barroso ou Paulo Portas foram ultrapassadas, em protagonismo, por um shar pei, facto que, como é óbvio, beneficiou a nossa democracia: o Gastão é menos hostil aos estrangeiros do que Paulo Portas, mais carismático que Durão Barroso e é, no mínimo, tão decorativo como Jorge Sampaio.
Mas o bicho não está isento de críticas, e a principal será, provavelmente, esta: trata-se de um cão sem sentido de Estado – esta é a verdade nua e crua. O eleitorado, como notou Schumpeter, não respeita um animal de estimação que age com destemperança. E o Gastão é, digamos, o equivalente canino de Manuel Monteiro: abandona um recinto com decisão e firmeza apenas para aparecer, horas depois, com o rabo entre as pernas, a dizer que saiu simplesmente para ir beber um café. RAP
posted by Gato 12:48 da tarde

terça-feira, setembro 23, 2003

OBRIGADO PELO INCÓMODO: De vez em quando, algum blogador diz: “Ah, é para momentos destes que vivo! Estar aqui, na minha poltrona favorita, com as minhas pantufas favoritas, a ler o meu autor favorito, a ouvir a minha música favorita. Sem ninguém me incomodar. Momentos destes são impagáveis!”
É simpático que, mesmo estando a gozar momentos tão prazenteiros, sacrifiquem o seu conforto para irem ao computador postar. ZDQ

posted by Gato 3:44 da tarde

CAMINHADA SINCRONIZADA: Já aconteceu a todos. É um dos fenómenos do pedestrianismo. Não tão supinamente irritante como o “empata passeios”, mas mais desconfortável ainda. Falo da “caminhada sincronizada” – o desconforto de partilhar um elevador, mas na calçada. Entro na via pedonal (vindo de casa, duma loja, dum carro em andamento, doutra via) e começo a caminhar lado de outra pessoa, exactamente à mesma velocidade.
De repente, estou a andar ombro a ombro com um desconhecido. De repente eu, que queria ir só cortar o cabelo, tenho companhia. E sabem como é, num bairro pequeno, as pessoas comentam. “Lá vai o Zé Diogo com o traficante do filho da Anabela. Está mais gordo, o Zé Diogo. Aquilo é um piercing no nariz? Ah, é uma verruga!”, dizem as vizinhas. Imaginem o que não dirão pelas costas.
Normalmente, bastaria acelerar um pouco, ir ganhando decímetros até deixar de parecer aos co-peões que somos um casal. Mas o Divino é irónico – e nunca passeou em Campo de Ourique – de maneiras que, quando acelero, o par (tão desorientado quanto eu) acelera também. Sem querer, estamos a marchar. E agora? A batalha psicológica pela posse da minha passada começou.
Convém aqui esclarecer uma coisa. Não se deve desprezar a importância de ter uma passada, uma velocidade própria, só nossa. É uma assinatura no passeio. No meu bairro, se não temos uma, não somos ninguém – ou não somos de lá. O cego da esquina reconhece toda gente pela cadência dos passos (alguns, poucos, pelo odor) e ninguém quer deixar de ser cumprimentado pelo velho Ray Charles (não percebo o nome: não é preto, canta mal e nem sequer é cego, é amblíope) porque teve de abandonar a sua passada. Sim, porque uma vez perdida, nunca mais é nossa.
Por isso, nenhuma destas soluções é hipótese para quem quer continuar a poder caminhar ao seu ritmo. Nem a chamada “corridinha”, um meio termo entre o olímpico “passo acelerado” e o infantil “sprint”. Funciona para chegar à frente a uma bicha do Multibanco, quando é esse o objectivo dos dois (Pedro Lomba falou disto aqui, com propriedade). Mas, não havendo esse destino comum, “corridinha” é fugir. Não se pode.
Nem abrandar. Nem fingir que se vai apertar o sapato. Nem entrar numa loja qualquer. Muito menos voltar para trás, fingindo que se esqueceu de alguma coisa. Qualquer uma destas hipóteses é mariquinhas e é uma vitória do outro gajo, que se passa a achar o bully dos passeios. Tenho um vizinho que perdeu a passada e agora anda com a de uma senhora da rua dele, que morreu de enfisema. A única pessoa com quem passeia é o avô. ZDQ

posted by Gato 1:52 da manhã

segunda-feira, setembro 22, 2003

“ÚNICA” OU “SÓ MAIS UMA”? Na notícia “Ronaldo já sabe o que são tablóides”, o EXPRESSO (de 20-9-2003) critica os tablóides ingleses na figura do “sensacionalista «Daily Star», cujo lema, na melhor tradição da hipocrisia tablóide, é a defesa do «direito» do «povo» a «saber».” (aspas e bold não são meus).
Nada de novo, para quem se lembra do Código de Conduta que o Expresso publicou há tempos, assim como de outras lições avulsas de deontologia com que, periodicamente, somos brindados.
O que é novo, na edição em causa, é a existência dum teste, uma prova à nossa capacidade de discernir o bom jornalismo que o Expresso faz, do outro. Quer dizer, só pode ser isso, a reportagem “Pacto de Regime”, na revista “Única”. É o Expresso a ver se estamos com atenção. Nessa reportagem (quatro páginas) ficamos a saber o que se passou no casamento de Joana Loureiro e João Ferro Rodrigues. Alguma destas pessoas é “figura pública”? Não. Morreu alguém durante a boda? Não. Gastão esteve na boda? Não. Cavaco Silva comeu de boca fechada? Não.
Além dos noivos serem filhos de políticos e de, nesse casamento terem estado outros políticos, o que é que justifica a reportagem? O que é que se terá passado de tão importante, que o “povo” tenha “direito” de “saber” pelo Expresso?
Que a noiva “envergava um singular vestido com a assinatura de Manuel Alves” e que “o estilista ainda dava os últimos retoques na longa cauda quando [a noiva], após subir a escadaria da igreja, parou uns segundos, para o pai lhe compor o cabelo antes de a conduzir ao altar.”? Que “foi servido «consommé», salada de lagosta e lombinhos de vitela com ervas, molho de limão, batatinha e espinafres «à la crème»”? Ou será que foi porque “houve dança até às cinco da manhã?”
Expresso, agora que conseguimos encontrar o “Wally Sensacionalista” no vosso jornal sério, podem voltar a publicar só notícias de interesse público. Para casamentos continuo a preferir a Caras. ZDQ

posted by Gato 1:03 da tarde

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Um blog com opiniões, nenhuma das quais devidamente fundamentada. Mantido por: Tiago Dores, Miguel Góis, Ricardo de Araújo Pereira e Zé Diogo Quintela. E-mail: gatofedorento@hotmail.com

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