Gato Fedorento

sexta-feira, junho 20, 2003

ATIRO A TOALHA: Os periféricos apresentam provas irrefutáveis acerca da sua primazia na denúncia das listas de Marcelo Rebelo de Sousa, provas essas que contrariam o que eu tinha dito quando a reclamei, orgulhosamente, para mim. Sacanas. O Rolo Duarte é que os conhece bem. RAP
posted by Gato 7:45 da tarde

E AGORA... UM MCPOST: Cada vez que entro num McDonald’s, rio-me para dentro. E nem é por causa do conceito de Happy Meal (será que os hamburgers que compõem esta refeição são, exclusivamente, feitos a partir de vacas bem-dispostas, sendo que todas as vacas deprimidas são encaminhadas para os restantes menus?). A piada reside no facto de, subitamente, entrarmos num universo linguístico à parte, em que o nosso vocabulário corrente é adulterado com o prefixo “Mc”. Não há menus; há McMenus. Não há um drive-in; há um McDrive-in. Os empregados não fazem um intervalo para o xixi; é para o McXixi. Sempre que frequento um desses restaurantes (e isso significa que a alternativa é ovos com salmonelas), estou ciente do risco de ser atendido por um empregado mais voluntarioso e que me aborde da seguinte forma: “McBom dia! O que vai McDesejar? McObrigado. Aqui está o seu McTroco.” Se isso acontecer, não me resta outra saída que não a complacência. Os meus pais ensinaram-me que devemos ser compreensivos com quem ganha um McSalário de miséria. MG
posted by Gato 2:52 da tarde

LEVANTEI ESSA QUESTÃO EM 1987: Nos debates políticos, há duas frases que me impressionam sempre e que farei por utilizar mal venham a propósito (conhecendo-me, utilizá-las-ei mesmo quando não vierem a propósito). Uma é: "Ainda bem que me faz essa pergunta". Serve para qualquer pergunta, mas diz-se com mais frequência a seguir às perguntas embaraçosas, enquanto se pensa na melhor maneira de desviar a conversa. A outra é: "Ó sotôr, eu levantei essa questão em 1987". Normalmente, os políticos levam a cabo pequenos torneios para descobrir quem levantou primeiro determinada questão.
Vem isto a propósito do debate sobre a crónica de Marcelo Rebelo de Sousa na "Os Meus Livros", começado por Pacheco Pereira e continuado por Francisco José Viegas, Nelson de Matos e pelos blogueiros preferidos de Pedro Rolo Duarte. A todos tenho que dizer o seguinte: "Ó sotôres, eu levantei essa questão em 1987". Ou melhor, em Março. Close enough. Há uns meses, os meus amigos do Blog de Esquerda puseram em perigo o prestígio do seu blog publicando um texto que escrevi sobre esse tema. Por razões de premente actualidade, reproduzo-o agora aqui:

Seja qual for a remuneração que o prof. Marcelo Rebelo de Sousa aufere pela coluna «Li e Gostei», que escreve na revista «Os Meus Livros», esse é o dinheiro mais bem ganho da imprensa portuguesa. E é uma quantia que, tenho a certeza, enfurece o pobre estagiário que passa a limpo a lista de títulos a lançar no mês em curso – aliás apropriadamente publicada ao lado da coluna do prof. Marcelo – e que é tão estimulante como o texto do professor.
Na coluna deste mês (referente, portanto, às leituras que fez no mês passado), ficamos a saber que, nos 28 dias de Fevereiro último, o prof. Marcelo leu e gostou de (eu contei) 57 livros, uma revista e um calendário. E da coluna não constam, como se percebe pelo título, as obras que o professor leu e não gostou. (Ideias para crónicas do prof. Marcelo em futuros números da «Os Meus Livros»: "Li e Não Gostei", "Li Até Meio e Depois Acendi a Lareira Com Eles", "Vi na Livraria e Até Me Interessou Mas Não Me Dava Jeito Comprar Nessa Altura de Maneiras Que Ficou Para Uma Próxima".)
Apesar das duas páginas a que tem direito, os títulos são tantos que o professor quase não diz uma palavra sobre os livros. E, quando diz, é mesmo só isso: uma palavra. Que, normalmente, tanto pode ser aplicada ao livro em causa como a outra coisa qualquer, tal como um vinho ou um frasco de perfume. São observações do género: «De Eça de Queirós, li "Os Maias" (excepcional); de Camilo, "O Esqueleto" (inebriante); e de Aquilino, "O Romance da Raposa" (fresquinho).»
Um mérito ninguém tira ao professor: valoriza o trabalho das pequenas editoras, com particular destaque, é certo, para a editorial Minerva (arrisco dizer que o professor lê tudo o que esta editora publica), mas sem deixar de estar atento à actividade de uma Editorial Maresias, da O Mirante, da Liga dos Amigos de Sesimbra e da Paróquia da Maia (juro que é verdade).
Mas nem tudo é aborrecido e inútil na coluna: no número de Setembro de 2002, o prof. Marcelo fez, na minha opinião, a sua melhor sugestão de leitura de sempre e, como assim era, dedicou, não uma, mas três palavras entre parêntesis à obra em apreço: «de Maria de Lourdes Brázio Tavares Monteiro, "A Mais Honrada Aldeia do Reino" (o Fundão intimista)». Já farto (como a generalidade dos leitores, suponho) de livros sobre a dimensão mais pública e mediática do Fundão, precipitei-me para as livrarias para adquirir a obra que dá a conhecer o lado mais intimista da localidade, antes que esgotasse. E depois, evidentemente, li e gostei. RAP
posted by Gato 11:36 da manhã

DICIONÁRIO DO DIABO: Em vez de estarem aqui a perder o vosso tempo, visitem mas é o novo blog do Pedro Mexia. MG

posted by Gato 12:21 da manhã

A COISA: Fiz uma descoberta angustiante. As Edições 70 possuem no seu catálogo um livro de Heidegger intitulado “Que é uma coisa?” Até aqui, quando alguém me perguntava, por exemplo, o que é uma fibra óptica, a minha resposta pronta era: “É uma coisa”. Agora, corro o risco do meu interlocutor insistir: “Sim, mas o que é uma coisa?” Os sábios invadiram, portanto, o último reduto dos ignaros. Mas ficaremos por aqui? Qual vai ser a próxima inquietação filosófica? “Que é o não faço a mínima ideia”? “Que é o hã?” Encontro-me, seriamente, preocupado com o futuro da filosofia. Depois, admiram-se que, desde que a Bárbara Guimarães aceitou casar com o Manuel Maria Carrilho, a filosofia não tenha obtido mais nenhum triunfo significativo. MG
posted by Gato 12:20 da manhã

quinta-feira, junho 19, 2003

MEA CULPA: O nosso leitor Filipe Costa Almeida tem toda a razão. A cena em que Nanni Moretti assiste ao debate televisivo surge em Abril, e não em Querido Diário. Prometo não cometer mais nenhuma gaffe, nos próximos tempos. Obrigado pela rectificação, António. MG
posted by Gato 11:23 da tarde

O LADO QUÊ? Quero chamar a vossa atenção para o facto de haver, actualmente, à venda um livro com o título mais delicioso da história editorial do nosso país. Chama-se “O Lado Obscuro de Hitler” (infelizmente, não fixei o autor, nem a editora) e já fazia falta. O lado angelical do ditador alemão, esse já é sobejamente conhecido. Impunha-se, agora, uma obra que, fruto de uma investigação diligente e minuciosa, desencantasse os aspectos menos conhecidos do ambíguo ditador. Sabia, por exemplo, que Hitler, em 1928, ajudou uma velhinha a atravessar a estrada? E que, em 1937, fez-se sócio da Amnistia Internacional? Claro que Hitler tudo fez para evitar que estes factos fossem divulgados. Afinal de contas, ele tinha uma reputação de facínora para manter. Mas já se sabe que a História não perdoa e, mais tarde ou mais cedo, os podres vêm ao de cima. MG
posted by Gato 12:18 da manhã

quarta-feira, junho 18, 2003

QUANDO O HUMOR CAI NAS MÃOS ERRADAS: Isto vai ser difícil. Mas tem que ser. O Indígena é o suplemento com o mais sofisticado sentido de humor da imprensa portuguesa. Pronto, já disse. Só no último número, a crónica de Leonardo Ralha - uma versão alternativa do famoso sketch do papagaio dos Monty Pithon – era hilariante; a contagem da quantidade de “mas”, “contudo”, “todavia”, “no entanto”, e “não obstante” utilizados por editorialistas e colunistas é puro serviço público (eu, pelo menos, estou disposto a pagar a taxa, apesar de, só neste blog, ter atingido a marca de 43 “mas”, palmarés que me garante, de imediato, o pódio no Olimpo dos coxos, que tanto dependem de muletas para articular o seu discurso); o “cantinho xenófobo” é um must do humor politicamente incorrecto; e os fascículos de Filosofia de Ponta batem aos pontos os mapinhas e as enciclopédias rascas que os jornais costumam distribuir. Por tudo isto, há que estudar urgentemente a razão por que, tanto na blogosfera, como na imprensa, os escribas de direita cultivam mais o humor e a ironia do que os seus congéneres de esquerda. Quando leio os cronistas de esquerda na imprensa, faço figuras muito parecidas com as de Nanni Moretti, numa cena do Querido Diário. A sua personagem está a assistir, na televisão, a um debate entre um político de direita e um de esquerda. O político de direita monopoliza a conversa, recorrendo a argumentos populistas e reaccionários. O político de esquerda, paralisado, limita-se a escutar o seu opositor. Às tantas, Nanni Moretti perde a compostura e começa a falar para o écran, exortando o político de esquerda: “Diz qualquer coisa de esquerda! (Pausa) Diz qualquer coisa de esquerda! (Pausa) Diz qualquer coisa!” MG
posted by Gato 11:15 da tarde

MEA CULPA: Todos os dias recebemos, pelo menos, meia-dúzia de mails atenciosos a elogiar o Gato Fedorento. Insultos, recriminações, calúnias, notificações para depor no DIAP, nem uma. Não estamos a lidar nada bem com isto. Onde é que estamos a errar? MG
posted by Gato 9:42 da tarde

SALVE O PLANETA, COMA UMA VACA: Há, por esse mundo fora, milhões de pessoas que estão convencidas que possuem uma razoável cultura geral e, no entanto, desconhecem por completo que os gases provenientes das vacas são responsáveis por 20% do metano que destrói a camada de ozono. Ninguém me convence que grande parte da culpa deste autêntico desastre ecológico pode ser assacada aos vegetarianos. Perversamente, essa trupe justifica a recusa em ingerir essa desrespeitosa espécie animal com a fidelidade à causa ambientalista. Há dias em que, também, a última coisa que me apetece é um bife do lombo, ainda levemente ensanguentado, coberto por um coerente molho à café. O sofrimento intensifica-se ao tomar consciência de que, ao invés, podia estar a deliciar-me com um foie gras de tofu. Só mesmo pelo buraco do ozono é que sou capaz de semelhante sacrifício. MG
posted by Gato 9:35 da tarde

FRANCISCO JOSÉ VIEGAS! Que me desculpem os autores dos outros blogs, mas um homem que passou pela experiência traumática de tentar entrevistar o Pedro Paixão na TV merece uma referência individual. Francisco José Viegas tem um blog. Como é óbvio, é excelente. RAP
posted by Gato 10:46 da manhã

MAIS BLOGS: Ontem meti a pata na poça. O facto, por ser frequentíssimo, nem sequer é digno de nota. Vou, ainda assim, emendar a mão: há (pelo menos) outro blog português sobre arquitectura, chamado Arquitectices. O autor acha piada ao Gato Fedorento. Mas, tirando isso, parece ser pessoa de bom gosto.
Outro blog novo: Desactualizado e Desinteressante. O título é enganador. Repare-se, a título de exemplo, na denúncia da conspiração contra o verbo “intervir”. Há peixe graúdo metido nisto: governo, autarquias, tudo. Beware! RAP
posted by Gato 10:44 da manhã

terça-feira, junho 17, 2003

ONANISTA: Sobre o blog que me chama onanista, eu só tenho uma questão: como é que descobriram, catano? ZDQ
posted by Gato 7:44 da tarde

INFÂMIA NO GATO!: Definitivamente, a sorte abandonou os ex-infames. Primeiro, o triste fecho d’ A Coluna. Agora, a publicação de um texto deles no Gato Fedorento. Pedro Lomba enviou-nos o seguinte:

Rapazes:
É com comoção que me dirijo a vós pela primeira vez. Senti que o devia
fazer hoje ao ler a prosa de Vital Moreira no Público. Leram? Eu reproduzo
o primeiro parágrafo que não custa nada e é o mais importante:

U $Tudo ao monte
#Quase todos os responsáveis (...)
%Vital Moreira
Uma das propostas (...)

Ora, não é a primeira vez que o Público tem estes atropelos sígnicos.
Lembro que uma das últimas crónicas de Fernando Rosas usou várias vezes
esta misteriosa e indecifrável expressão «ubk2324lk». Ninguém até agora
percebeu o que Fernando Rosas queria dizer com aquilo. A explicação mais
convincente, como sabem, veio do Pedro Mexia, na nossa malograda Coluna.
Arriscou o Pedro que Rosas se encontrava em pleno orgasmo virtual no
momento em que escreveu «ubk23224lk». No meio do delírio, Rosas não se
conteve e foi o que saiu. Eu tenho muito respeito pelo Mexia mas, ainda
assim, tenho as minhas dúvidas. Dúvidas que se avolumaram ao ler esta
crónica de Vital Moreira cujo primeiro parágrafo utiliza, por esta ordem,
$, # e %. Ora, nenhum instante de clímax sexual se coaduna com a utilização
cuidada destes signos: $, # %. Reparem que nem sequer são seguidos: é
preciso começar pelo $, ir atrás ao # e chegar à frente com o %. Não, não
se trata de sexo, meus senhores. Então de que se trata? Não sei. E queria
que vocês me ajudassem a desvendar este sarilho. Há qualquer coisa a
germinar, amigos. Qualquer coisa que ainda não percebemos. Conto convosco
para essa descoberta. A Pátria saúda os seus filhos.
Pedro Lomba


Caro Pedro, temos os nossos melhores homens a estudar o assunto e prometemos revelações para breve. Por enquanto, quero juntar-me a ti e dizer apenas que publicar textos semeados de caracteres esquisitos é ridículo. Compl#etamente rid$ícul%o. RAP
posted by Gato 7:13 da tarde

BLOGS NACIONAIS E ESTRANGEIROS: A todo o momento cresce o amor da juventude alemã pela aviação sem motor. Isto é sabido. A juventude portuguesa, essa, anda empenhada em fazer blogs. Também está bem. Os últimos que se nos anunciaram na caixa do correio têm cada um sua originalidade. Atenção ao Contacorrente (o primeiro blog epistolar português, creio eu), a O Projecto (o primeiro sobre arquitectura, se não estou em erro), ao Mesa do Canto (o primeiro escrito a partir do café), ao A Minha Pilinha (o primeiro escrito por pilinhas), ao Diário de Bordo – Inépcia (o primeiro com edição em código morse) e ao The Pirilampo Mágico Project (o primeiro blog a insinuar que o ZDQ é um onanista contumaz. Espero que seja o primeiro de muitos).
Há também um novo blog estrangeiro (grande parte ou a totalidade dos autores são açorianos) chamado Desejo Casar. É engraçado como a língua deles, escrita, até parece igual à nossa. RAP
posted by Gato 6:35 da tarde

EMMERDEMO-NOS: No dia 5 de Maio escrevi aqui (post “QUAIS PYTHON, QUAL QUÊ”, lá em baixo) um louvor à exclamativa prosa de Vera Roquette. Alertado pelo Nelson Santos, confirmo esta semana que a cronista mantém intactas todas as qualidades que lhe apontei. Vale a pena ler “Paris, merde!” (14 exclamações). RAP
posted by Gato 2:39 da manhã

O QUE ANDA A TRESLER?: Entre os 648 inquéritos sobre livros da nossa imprensa, o meu preferido é – adivinharam – o da TV Guia. É francamente superior aos outros porque o texto vem polvilhado de gralhas muito imaginativas, que tornam mais estimulante a tarefa de perceber de que livro se está a falar. Mais do que um inquérito, é um divertido puzzle. Na semana passada, por exemplo, Adelaide Ferreira disse estar a ler “«As Cinzas de Ângela Frank», de que é autor MacCkoure” (1). Há duas semanas calhou a vez a Rui Unas, que tinha acabado de ler “Perdeste-me” (2), de José Luís Peixoto. De acordo com a TV Guia, Unas achou o livro “um pouco autodidáctico” (3).

Soluções:
(1) “As Cinzas de Ângela”, de Frank McCourt.
(2) “Morreste-me”.
(3) “Autobiográfico”. RAP
posted by Gato 2:37 da manhã

A JUSTIÇA TARDA, MAS NÃO FALHA: Eu bem podia andar para aí mais dez anos a tentar fazer ver às pessoas que as desgraças do mundo são culpa das mulheres que usam calças, que ninguém me dava ouvidos. Cansei-me de ouvir: “Olha que se calhar não. Talvez as desgraças do mundo tenham mais a ver com as desigualdades e assim” ou “Pronto, deixa lá, filho. Toma os comprimidos, toma”. Foi preciso vir uma notícia no Público, que confirma que o rei da Suazilândia (que ainda por cima anda ocupadíssimo a ver vídeos de mulheres em topless para escolher a décima segunda esposa, coitado) também é da opinião que a culpa das desgraças no mundo é das mulheres que usam calças para, finalmente, começarem a acreditar em mim. E, para os mais cépticos, aqui fica uma prova desta teoria, escolhida ao acaso de entre as inúmeras que polvilham a história universal.

Hitler: Então tu andas vestida com umas calças, Eva?
Eva Braun: O que é que queres que eu faça, Adolf? Tu vestes a minha roupa, eu tenho que vestir as tuas calças. Tenho tudo para lavar.
Hitler: Então e assim como é que brincamos às colegiais?
Eva Braun: Sei lá! Porque é que não brincamos a outra coisa, para variar?
Hitler: Tipo o quê?
Eva Braun: Olha, aos médicos, por exemplo.
Hitler: Ó Eva, estás farta de saber que eu não aprecio nada essa brincadeira. Além disso, onde é que já se viu um médico com um bigodinho destes?
Eva Braun: Pois é, Adolf. Tu já não me procuras, vestes a minha roupa, andas sempre a cantarolar essa musiqueta do Elton John...
Hitler: O que é que queres dizer com isso? Musiqueta do Elton John? Eu não ando a cantarolar musiqueta do Elton John coisa nenhuma! Ouviste? É o "Wake me up before you go go", do George Michael.
Eva Braun (enquanto tosse): Roto...
Hitler: Hã? O que é que tu disseste? Roto?
Eva Braun: Disse? Não?
Hitler: Roto, Eva? Eu?
Eva Braun: És tu que estás a dizer.
Hitler: Olha, minha menina. Já estou farto dessas boquinhas, percebes? Só para te calar, sabes o que é que eu vou fazer?
Eva Braun: Possuir-me de um forma tão máscula que eu até perco a fala?
Hitler: Hã? Claro que não! Vou invadir a Polónia e é já! E depois quero ver quem é que é roto!


Cá está. TD

posted by Gato 1:23 da manhã

É MELHOR ARREPIAR CAMINHO: Isto do Gato andar a meter-se com o DNA é perigoso. Vejam lá esta carta de uma leitora, daquelas de que o MG fala:
"Querido DNA

Hoje acordei a meio da noite, encharcada em suores frios. Dava voltas e voltas na cama, sem saber o que fazer. Tanto mexi e remexi, que acordei o meu marido. Foi quando ele me disse “Vai ler qualquer coisa até chegar o sono” que eu percebi o que é que tinha: precisava de ler o DNA! A princípio, julguei que me bastaria um contacto táctil com exemplares antigos. Pensei que a textura me ia acalmar. Em vão acordei o meu marido outra vez, para retirar a chave que tenho escondida debaixo do colchão, que abre a gaveta da cómoda onde tenho guardada a chave que abre o cofre onde abrigo os exemplares antigos do DNA (os dos últimos seis meses. Como é óbvio, os mais antigos estão no banco).
Mas não era isso. Não me bastou ouvir as folhas roçarem uma na outra, nem o cheiro adocicado da tinta velha. Não me bastou reler as palavras que eu sei de cor e salteado. Eu tinha era que possuir o DNA desta semana! Mas como, se ainda era quarta-feira?
Só tinha uma hipótese: ir pedir à gráfica que me disponibilizasse um expemplar. Era de loucos, eu sei, mas era já mais forte do que eu.
(abro aqui um parêntesis para explicar a minha relação de amor com o DNA: Sábado, antes de tomar banho, vou ao quiosque comprar o DN. Sem o DNA, não consigo evacuar, e sem evacuar, não consigo tomar banho. Nunca marco férias com mais de uma semana, se achar que não vou poder adquirir o DNA. No meu primeiro divórcio, foi o DNA que me apoiou. Aliás, divorciei-me do meu marido porque ele tinha a mania de me esconder o DNA - ele dizia que não era de propósito, mas ninguém se esquece do DNA no café 2-duas-2!!! vezes seguidas. Adoro tudo o que é escrito no DNA, tenho emolduradas várias capas do DNA, ofereço molduras com capas do DNA no Natal e já deixei explícito no meu testamento que quero ser cremada numa forno ateado com os meus exemplares do DNA).
Posto isto, é claro que tinha mesmo que ir à gráfica. Cheguei lá eram 4 e picos da manhã, bati à porta – o espantado que o porteiro não ficou ao deparar-se com uma senhora de robe e chinelos! – e tratei de pedir, por tudo, que me facultassem uma cópia do DNA. Recusaram. Expliquei-me. Recusaram. Disse que não podia passar dois dias sem saber que sistema de alta fidelidade era recomendado, que sítio de Lisboa a Camila Coelho tinha visitado, quem é que gostava / não gostava de quê ou que foto antiga é que esmiuçavam na última página. Recusaram.
Não tive outra hipótese senão matar tão antipático senhor e sair de lá com as provas da revista.
Exagerei. Foi em última instância, peço desculpa. Não volta a suceder. Até porque as provas do DNA não são a mesma coisa que um exemplar do DNA.
Muitos beijinhos e continuem o belo trabalho.
M.A., Lisboa."
ZDQ

posted by Gato 12:27 da manhã

segunda-feira, junho 16, 2003

RESPEITEM O DNA!: Vamos lá ter alguma calma nos comentário sobre o DNA. Quem ler estes posts todos, vai ficar com a ideia que se trata do mais desinteressante suplemento da imprensa portuguesa. E não é assim. Ainda há bocado estive a ler o Público e pude confirmar uma impressão que já tinha há algum tempo: tenham paciência, mas o DNA é muito superior ao suplemento Carga & Transportes! TD
posted by Gato 10:20 da tarde

EM DEFESA DA HONRA DO DNA: A provar que também há dissensão no Gato Fedorento, venho em defesa do DNA, que considero ter sido injustamente vilipendiado por RAP e ZDQ. Sim, adivinharam: sou um dos muitos leitores que escrevem aquelas epístolas laudatórias que são publicadas na secção do correio dos leitores (pág. 3) e que constituem as mais sublimes declarações de amor já alguma vez feitas a um suplemento de jornal. Para quem nunca deparou com essa secção, aqui fica uma missiva-tipo: “Obrigado, DNA. Eu gosto tanto do DNA. No percurso entre a minha casa e o quiosque, não resisto e estugo o passo por causa do DNA. Isso faz com que, involuntariamente, pise sempre uma ou duas poias de cães, mas vale o sacrifício, pois sei que vou ter o DNA nas minhas mãos três ou quatro segundos mais cedo. Queria ainda dizer que gosto muito do DNA. Viva o DNA!” Voltemos a RAP e a ZDQ. Como pode alguém maldizer o DNA, quando é nas suas páginas que pontifica uma Sónia Morais Santos? (E isto já para não falar de um Eduardo Barroso, que nos brinda, semanalmente, com uma actualização informada dos avanços científicos na área das doenças hepáticas). É certo que desconheço que percurso fez Sónia Morais Santos para ser titular de uma crónica quinzenal, num dos mais prestigiados diários da nossa imprensa (mais desconhecida do que ela, só mesmo eu). Mas Sónia Morais Santos compensa essa fragilidade com reflexões sobre temas prementes da actualidade. Recordo-me de, há uns meses, Sónia Morais Santos discorrer sobre o facto de uns pombos terem feito um ninho, junto à janela da sua habitação. Felizmente, não nos poupou pormenores. Não obstante, é com pena que reconheço uma falha de carácter em Sónia Morais Santos: a cronista padece de um acentuado sadismo. Desde essa data até hoje, ela optou pela ocultação sistemática e intencional de informações sobre os ditos bichos. Primeiro, espicaça-nos a columbófila curiosidade, para logo de seguida nos deixar órfãos de notícias, abandonados à insónia, com milhares de questões a martelar-nos na cabeça. Como é que estarão os pombinhos? Continuam no parapeito da Sónia? Migraram para Sul? A Sónia apanhou-os, fritou-os e comeu-os com um arrozinho de grelos? Se sim, acompanhou-os com que vinho? E os grelos? Comprou-os na praça ou no Pingo Doce? Sónia, já agora, permita-me um pedido: queria propor-me como seu biógrafo. Adorava investigar e relatar essa sua existência repleta de excitantes peripécias com desfechos inesperados. Não me admirava nada se a próxima obra de Isabel Alçada e Ana Maria Magalhães se intitulasse “Uma Aventura... No Parapeito da Janela da Sónia”. MG
posted by Gato 1:38 da manhã

domingo, junho 15, 2003

UMA COISA DE CADA VEZ, POR FAVOR: Numa altura em que o governo pretende legislar ao arrepio da Constituição Portuguesa (vide alguns artigos do Código do Trabalho), começar a falar de uma Constituição Europeia não será queimar etapas? Não deveríamos, primeiro, respeitar a que temos e, quando conseguíssemos atingir essa espinhosa meta, partir, então sim, para outro desafio? MG
posted by Gato 8:45 da tarde

VÊ-SE POUCA TELEVISÃO EM PORTUGAL: No último dia da Feira do Livro de Lisboa, os visitantes atropelavam-se nos corredores, acotovelavam-se junto aos stands e agitavam notas no ar para conseguir chamar a atenção dos vendedores. É inaceitável, mas aquilo mais parecia uma feira do que outra coisa. MG
posted by Gato 8:38 da tarde

VAI TER QUE AGUARDAR NA SALA DE ESPERA, AO LADO DO CHOQUE FISCAL: A imprensa desmistificou por completo os números apresentados pelo Ministro da Saúde sobre os supostos avanços no combate às listas de espera. Não só ficou provado que Luís Filipe Pereira anda a manipular a opinião pública, como é ponto assente que uma das mais propaladas promessas eleitorais deste executivo ficou, também ela, em lista de espera. MG
posted by Gato 8:35 da tarde

MAIS PAPISTA QUE O PRÓPRIO: Segundo o Expresso, o Papa, num apelo aos governantes, “referiu-se às uniões de facto e aos casais homossexuais, criticantdo a «mentalidade» que encoraja «estilos de vida que não são dignos do Homem»". Numa altura em que se fala tanto da quantidade de voltas ao Mundo que João Paulo II já deu, nas suas visitas, isto não me parece declaração de uma pessoa tão viajada. ZDQ
posted by Gato 7:12 da tarde

NÃO É BEM ASSIM, RAP: Na sua análise sobre a contenda Pedro Rolo Duarte vs Periférica, acho só que o RAP está a ser injusto para com as fotografias do DNA. Dentro das publicações que abusam das fotografias desenquadradas e desfocadas, o DNA é uma revista claramente superior. ZDQ
posted by Gato 7:09 da tarde

É PRECISO TER LATA: Pacheco Pereira diz no Abrupto que o blog é “neste momento o único meio de comunicação alternativo em que se pode livremente criticar os meios de comunicação social escrita e audiovisual. Por razões corporativas, os media tradicionais são muito avessos a essa crítica (...).” É muito bem observado. E ontem, quem leu o editorial de Pedro Rolo Duarte no DNA, assistiu a uma manifestação bastante violenta desse corporativismo. Pedro Rolo Duarte desanca a Periférica num texto involuntariamente cómico. Por exemplo, diz que a revista de Vilarelho tem “fotografias de parca qualidade” precisamente a propósito do número em que a Periférica publica a magnífica série “Royal Blood”, de Erwin Olaf. Em compensação, o DNA traz esta semana fotos de modelos envergando um “top sem costas em seda preto e branco microsaia estampado” ou um “vestido em crepe seda azul com branco efeitos drapeados”. Tudo isto porque “o tempo aquece e com ele as cores e os tons cálidos chamam por nós.”
Mais adiante, Rolo Duarte acusa a Periférica de não ter uma “estrutura editorial” nem uma “linha que a oriente”. Ora, quem pega na Periférica percebe que tem na mão uma revista literária: tem críticas, entrevistas (neste número, ao director da Granta e aos editores da Quasi), contos, poemas. Penso que a linha orientadora da revista está bem definida. Mas ofereço dinheiro a quem conseguir descortinar um fio condutor no DNA, que mistura entrevistas com crítica de sistemas de alta-fidelidade, crónicas desinteressantes com crítica literária (encurralada num espaço cada vez menor), e moda a armar ao moderno com pré-publicações. Esta semana, por exemplo, o DNA faz a pré-publicação do livro de Ana Bola. Não discuto a escolha da obra. Mas no sábado, dia em que o DNA “pré-publicou” um excerto de “Absolutamente Tias”, já o livro tinha saído e ia, aliás, na segunda edição. Chamar pré-publicação a isto é, no mínimo, ridículo.
Rolo Duarte diz ainda que a Periférica tem “meia-dúzia de colaboradores que «mostram» as suas redacções, um pouco à maneira dos «Jogos Florais»”. Recordo que quem diz isto é a mesma pessoa que dirige um suplemento onde escreve a própria irmã (assina com pseudónimo) e alguns amigos, dos quais se salvam poucos – como é o caso de MEC e Carlos Quevedo, por exemplo. E, por falar em jogos florais, repare-se no “Gosto não gosto” desta semana, escrito por Ana Zanatti, todo ele em verso: “Gosto do silêncio da paz e da harmonia dos iluminados. Não gosto da paz podre nem da agonia que se impinge aos mutilados. (...) Gosto de rimar pacto com intacto. Não gosto que me pisem o bico do sapato. (...) Gosto da natureza, intensa, viva, pujante. Não gosto da caça à árvore, à lebre, ao elefante. (...) Gosto de quem é leal e trata todos por igual. Não gosto de quem explora os fracos porque é muito mau sinal.” Bonito.
A ira desproporcionada de PRD tem um motivo claro: a Periférica, segundo ele, “ocupa parte do seu espaço arrasando, gozando, achincalhando, toda a imprensa portuguesa: do «Público» ao «Expresso», do «DNA» ao «Jornal de Letras».” Só para terem uma ideia, cito aqui o modo como, este mês, a redacção da Periférica arrasou, gozou e achincalhou o Expresso: “EXPRESSO: O jornal preferido dos sem-abrigo.” Malandros! Como se atrevem, aqueles miseráveis?! RAP
posted by Gato 3:43 da tarde

O QUE É UM BLOG?: Tenho evitado intervir nas discussões que Pacheco Pereira propõe. A razão é esta: li os dois primeiros volumes da biografia de Álvaro Cunhal, estou à espera dos próximos, e temo que o Abrupto lhe esteja a roubar tempo que poderia ser aplicado na escrita da obra. O segundo volume acompanha a vida de Cunhal até ao fim da década de 40, o que significa que só daqui a muitos anos poderemos ler os capítulos dedicados aos anos 70, altura em que as coisas vão começar a aquecer a sério. Teremos que esperar. Segundo me disseram, JPP leva um ano a redigir cada volume e depois o revisor da Temas e Debates precisa de dois anos para corrigir todas as gralhas e deslizes ortográficos (prometo que é a última piada sobre a ortografia de JPP).
Posto isto, perdido por cem, perdido por mil. Vamos ao debate.
Pacheco Pereira tem reflectido sobre a natureza do blog, defendendo que essa reflexão “é um instrumento essencial para se ultrapassar o «umbiguismo»”. Em primeiro lugar, penso que o “umbiguismo” não é característica exclusiva dos blogs. Há textos “umbiguistas por toda a imprensa, por exemplo. Em segundo lugar, penso que o “umbiguismo” dos blogs não é necessariamente mau. Em terceiro lugar, creio que nunca o ultrapassaremos – e que também isso não é necessariamente mau.
JPP diz que há dois tipos de “umbiguismo”: o que é “impulsionado pela forma do meio”, uma vez que os blogs têm “a estrutura de um diário”, e o que leva a que os blogs se fechem sobre si próprios e sobre a sua vizinhança, mantendo diálogos apenas com um grupo restrito de outros blogs. Ambos os fenómenos são naturais. Por um lado porque, de facto, os blogs têm uma estrutura semelhante à de um diário. Aliás, quando procuramos definir o que é um blog, talvez seja útil definir previamente o que um blog não é. E um blog não é, por exemplo, um jornal. Não tem uma linha editorial (ou não precisa de ter), nem respeita critérios de actualidade e relevância nos assuntos tratados (ou não precisa de respeitar). Há, no entanto, blogs que tentam marcar uma agenda. JPP cai nessa tentação muitas vezes. Ontem, lia-se em vários blogs esta reclamação: os 115 anos do nascimento de Fernando Pessoa quase não foram referidos na blogosfera portuguesa. É uma reclamação que me parece descabida, não só porque o número não é particularmente redondo (normalmente, assinala-se este tipo de data de 50 em 50 anos ou, no máximo, de 25 em 25), mas também porque os blogs não estão obrigados a registar efemérides. Para isso há outros meios, até mais fiáveis. Esta tentativa de marcar uma agenda, de indicar o assunto que seria mais pertinente abordar em cada altura é, creio, contrária ao espírito dos blogs. Nesse sentido, creio que Miguel Esteves Cardoso introduziu um aspecto importante que tinha escapado à sensibilidade, digamos, mais científica de Pacheco Pereira: a questão da beleza. De um modo geral, julgo que a prosa que encontramos nos blogs é melhor, mais elegante e mais viva do que a que lemos nos nossos jornais. E isso é uma das características que me agradam na blogosfera. O modo como os assuntos são tratados não é menos interessante do que a importância dos assuntos que são tratados. Interessa-me mais, por exemplo, saber o que fez o Alexandre Andrade (que não conheço) no dia de Stº António do que ler noutro blog uma nota sobre o facto de, nesse mesmo dia, há 115 anos, ter nascido Pessoa. De resto, nos livros (e em tudo, creio) acontece-me o mesmo. Prefiro o “Libertino passeia por Braga, a Idolátrica, o seu Esplendor” ao “Iraque - Assalto ao Médio Oriente”, do Chomsky, embora reconheça que é mais importante a guerra do Golfo do que as peripécias por que terá passado Luiz Pacheco no dia 16 ou 17 de Outubro de 1961, em Braga.
Por outro lado, é natural que os blogs mantenham diálogo com o restrito grupo de blogs com os quais têm afinidades (sejam elas quais forem). Mais natural ainda é que o diálogo que se mantém nos blogs não ultrapasse as fronteiras da blogosfera. Um dos motivos pelos quais os bloggers criam blogs é, justamente, o facto de os outros meios de comunicação lhes estarem vedados. É curioso notar que, se eu enviar uma carta para o Público discordando da crónica de JPP, possivelmente não obterei resposta. Mas é provável que JPP leia e comente este texto que escrevo aqui. Somos as mesmas duas pessoas, só muda o meio. Um permite o diálogo, o outro não.
A característica mais interessante dos blogs, para mim, é esta: um blog permite juntar a ponderação e o esmero da palavra escrita a um imediatismo que nenhum outro meio oferece. É uma possibilidade de ter conversas por escrito, digamos assim. [Voltarei a este assunto mais adiante. Temo que os nossos leitores achem esta questão aborrecida, por isso vou só colocar meia dúzia de posts com piadas sobre flatulência e já volto.] RAP
posted by Gato 2:54 da manhã

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Um blog com opiniões, nenhuma das quais devidamente fundamentada. Mantido por: Tiago Dores, Miguel Góis, Ricardo de Araújo Pereira e Zé Diogo Quintela. E-mail: gatofedorento@hotmail.com

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