terça-feira, setembro 25, 2007
CONGRESSOS DO PSD, VOLTEM QUE ESTÃO PERDOADOS: Há poucas coisas que me entristecem tanto como esta história das directas do PSD. É que eu sempre fui um aficcionado dos congressos do PSD. Trata-se do evento político onde é mais provável que, de repente, se levante uma dúzia de militantes, salte para o palco e desate aos pontapés a tudo e a todos, inclusive a um cartaz com a mensagem: “PSD: Responsabilidade e sentido de Estado.”
Habituei-me, ao longo dos anos, a assistir às transmissões televisivas dos congressos social-democratas, madrugada adentro, enquanto comia pipocas. Menos quando Santana Lopes fazia aqueles discursos improvisados, que me provocavam um nó na garganta. Lembro-me de a minha mãe uma vez entrar na sala, ver-me lavado em lágrimas, perguntar o que é que se passava e de eu dizer, a soluçar: “Ele vai apresentar uma moção de estratégia ao congresso, mesmo depois de tudo o que o Conselho Nacional lhe fez... Cafagestes!”
É certo que, agora que já não há intervenções pungentes de Santana Lopes, os congressos do PSD ficariam demasiado dependentes das gaffes de Luís Filipe Menezes. Na minha opinião, acho perigoso que se dê assim tanto poder a um só homem.
Costuma-se dizer – e com razão - que o PSD é o Sport Lisboa e Benfica da política, uma vez que se trata do partido com a maior diversidade de classes sociais. O que explica, ao mesmo tempo a existência de tantos barões no partido: desde que se mastigue com a boca fechada e não se diga “treuze”, é-se barão.
Segundo Pacheco Pereira, é esta diversidade social que começa a estar seriamente ameaçada. Há uns tempos, escreveu no PÚBLICO que “o problema do PSD é começar a ter só um Portugal ou dois dentro de si”. Não podia estar mais em desacordo com esta afirmação. Para mim, é precisamente esse o problema do partido. Se, em vez de “Portugais”, o PSD tivesse uma Finlândia ou duas Dinamarcas dentro dele, aí sim podia ser que o partido fosse a algum lado.
De resto, fico já satisfeito por ter conseguido escrever um post sobre o PSD, sem uma única referência à baixa estatura de Marques Mendes. (O quê? Isto conta como referência?) MG
posted by Gato 8:52 da manhã
sábado, setembro 22, 2007
CASO MADELEINE I: Incluo-me no lote daqueles que são críticos em relação ao desempenho da PJ no caso da menina desaparecida na Praia da Luz. Não acho normal que especialistas em criminalidade tenham demorado quatro meses para perceber aquilo que todas as donas de casa portuguesas perceberam ao fim de cinco minutos, e baseando-se apenas na fisionomia de Kate McCann. MG
posted by Gato 8:49 da tarde
CASO MADELEINE II: João Paulo II recebeu Carolina Salgado. Bento XVI recebeu o casal McCann. É imperioso colocar um Securitas à porta do Vaticano. MG
posted by Gato 8:48 da tarde
sexta-feira, julho 06, 2007
UMA BOA RAZÃO PARA TER FILHOS: Hoje, fui à loja trocar aquele iPod com 4,1 cm. Era pouco prático recorrer aos dedos de uma criança de dois anos cada vez que queria aumentar o volume. MG
posted by Gato 5:09 da tarde
HEIDEGGER e o 4-4-2: Foi, ontem, apresentado o livro “Liderança – As Lições de José Mourinho” de Luís Lourenço, baseado na sua tese de mestrado. Segundo o autor, José Mourinho "é diferente por partir de um novo paradigma de pensamento, preconizado por Heidegger ou Morin, por exemplo, e o operacionalizar. Trata-se de um novo olhar para o Todo, que põe de parte a divisão e análise das partes e o pensamento cartesiano de há quatro séculos". Cada vez que leio isto (e faço-o várias vezes ao dia, na esperança de o vir a compreender), gosto de imaginar a seguinte conversa entre dois adeptos, à saída de Stanford Bridge:
- Eh pá, o Chelsea não merecia ter empatado este jogo.
- Pois não. Mas a primeira parte foi tão má que parecia que o Mourinho não tinha lido “O Ser e o Tempo”.
- Quantas vezes é que o Heidegger avisou que o 4-4-2 só resulta se o trinco compensar a subida dos laterais?
- Exacto. Meu amigo, se é para ver a nossa equipa voltar ao pensamento cartesiano, não contes mais comigo para vir ao estádio.
- Calma. Também tens que perceber que estava nevoeiro. Se calhar, por isso é que, durante a primeira parte, o Mourinho não conseguiu ver o Todo.
MG
posted by Gato 11:12 da manhã
quinta-feira, fevereiro 08, 2007
OUTRA VEZ, MAS MAIS DEVAGAR: Parece que não me fiz entender. Vou tentar de novo usando palavras com menos sílabas, a ver se tenho mais sorte. O PPM é como a minha tia Júlia (embora tenha menos bigode): gosta muito de quase tudo o que eu faço, mas não percebe quase nada. Vejamos: PPM continua convencido (pelo menos, parágrafo sim, parágrafo não) de que certa personagem que interpretei se refere a ele. Como provas, apresenta o uso de uma expressão que terá sido cunhada pelo próprio (“pluralismo democrático”), e como testemunha, avança com o 24 Horas. Confesso que, até tendo em conta as circunstâncias, pensei que não restassem dúvidas quanto à autoria do discurso da personagem em causa. Caramba, não foi assim há tanto tempo. Mas, se é mesmo preciso, tenho todo o gosto em recordar o PPM e o 24 Horas. Aqui há tempos, alguém exerceu pressão para que o prof. Marcelo se calasse. A pressão era para que se calasse, embora – e isto é que é bonito – estivesse travestida de amiga da liberdade. Para quem não se lembra, o caso foi este: lá está a ideia de que nenhuma opinião pode passar sem ser contraditada, a recusa veemente de que tenha sido feito qualquer esforço para censurar, e o súbito amor ao pluralismo, que lindo que é o pluralismo. Ou seja, estão lá precisamente os argumentos e o vocabulário que a personagem em causa usou. Se são iguais aos argumentos e ao vocabulário do PPM, caros amigos, a culpa não é minha. E se há alguém que deve ficar embaraçado com isso não sou eu, com certeza. A ideia da rábula surgiu porque, em nome de uma suposta defesa do prof. Marcelo, foram usados exactamente os mesmos argumentos que, um ano e pouco antes, tinham sido usados para atacar o prof. Marcelo. Ninguém veio para a imprensa dizê-lo, até porque nem toda a gente tem a ingenuidade do Rui Gomes da Silva (e também porque este episódio acabou por ser, de algum modo, didáctico), mas disseram-no. Lamento imenso, mas os argumentos e as “expressões” do PPM nunca foram para aqui chamados nem tidos em conta. E, assim como não fiz referência ao PPM, nunca falei ao DN em críticas da blogosfera (nada disso está, aliás, entre aspas). Já disse que, quando é caso disso, comento as críticas da blogosfera na blogosfera – e PPM sabe-o. Também disse que a notícia apresenta conclusões da jornalista, e não minhas. Mesmo a mensagem SMS, que aparece como sendo parte do meu discurso, lamento dizê-lo, nunca existiu. Disse que tinha enviado uma mensagem ao Herman e a jornalista inferiu que tinha sido uma SMS. Enviei a mensagem por e-mail. Longe de mim querer pôr em causa a habitual infalibilidade dos mensageiros, infalibilidade essa que qualquer leitor de jornal conhece tão bem, mas de facto eu não poderia ter dito o que ali está, porque não é verdade.
Quanto às tentativas de pressão ou retaliação, volto a dizer que são bastante frequentes – o que, apesar de tudo, não creio que seja surpresa para ninguém. Umas vezes, aparecem noticiadas na imprensa, sempre de uma forma mais hesitante do que taxativa, mesmo que toda a gente saiba que é caso para ser taxativo. Mas, na maior parte dos casos, como me parece óbvio, não são notícia. PPM só acredita quando vir, em letra de forma, o anúncio: “Eu, Fulano de Tal, desejo ameaçar e/ou censurar o indivíduo Y por ter feito uma rábula que me irritou.” Tudo o que seja menos que isto, para PPM, pertence ao domínio do sobrenatural.
O que me leva às aspirações do Henrique Burnay, que infelizmente não posso satisfazer. Não frequento caixas de comentários – o que desde logo me impede de ser decente. Também não acuso ninguém se não puder prová-lo (conversas privadas e telefonemas não provam nada), ou se só puder prová-lo traindo a confiança de outros – o que me impede de ser corajoso. Mas posso dizer que tem havido pressões e que temos recebido recados e ameaças. Por uma razão que é simples mas não despicienda: porque é verdade.
Posto isto, sinceramente não encontro mais maneiras de dizer que, se dei razão ao Herman, não foi por um post do PPM no 31 da Armada. Por muito perspicazes, sensatas e acutilantes que sejam as críticas do PPM (e se o são, meu Deus!, se o são!), não me fazem pensar que o país em que vivo não é bem aquilo que eu pensava que era. Já o facto de a minha família receber ameaças por eu ter feito uma rábula humorística de dois minutos, não me levem a mal, transtorna-me um pouco mais. Enfim, feitios. RAP
posted by Gato 12:44 da tarde
quarta-feira, fevereiro 07, 2007
FAZER A FESTA, LANÇAR OS FOGUETES E APANHAR AS CANAS: Ao que parece, Paulo Pinto Mascarenhas tem a convicção firme de que certa personagem que interpretei está a falar com ele. A generalidade dos malucos ouve a voz de Jesus Cristo; PPM ouve a minha. Enfim, cada um tem a Alexandra Solnado que merece – e, mesmo sendo ateu, parece-me mais do que justo que eu tenha pior sorte que o Messias.
Talvez seja bom explicar o que se passa. O povo português tem tido, até agora, a decência de não delegar em PPM qualquer espécie de poder. Mas a verdade é que o povo português não tem sido tão sensato no que respeita a outras pessoas. Eu sei que esta notícia vai cair como uma bomba no 31 da Armada, mas há gente um pouco mais poderosa do que o PPM. É uma coisa muito ligeira, mas tem, de facto, um bocadinho mais de poder. E essa gente, quando se sente atingida, ou quando sente que os amigos foram atingidos (mesmo que seja por uma rábula humorística), pressiona, corta relações com a estação de televisão em que a rábula foi emitida, manda recados com ameaças, faz saber que ficará à espera de uma oportunidade para nos fazer, digamos, coisas bonitas (sempre que posso, uso expressões de Artur Jorge). É isso que tem acontecido desde que o Diz Que É Uma Espécie de Magazine começou – e foi o que aconteceu agora, de forma bastante mais intensa, na sequência do sketch sobre Marcelo Rebelo de Sousa. Em tempos, o Herman disse-me que o pequeno poder (e, às vezes, não tão pequeno como isso) sabe encontrar maneiras de pressionar no sentido de fazer censura sem sujar as mãos, de ameaçar sem poder ser denunciado, de intimidar sem aparecer. Na semana passada percebi isso melhor do que gostaria, e dei-lhe razão.
Decidimos fazer uma rábula sobre esta espécie dissimulada de censura. Ontem, uma jornalista do DN perguntou-me se tínhamos sido pressionados pela RTP e pelo Provedor do Espectador. Respondi que não, e não menti. Da RTP e do Provedor do Espectador, não veio qualquer espécie de pressão. Quem sobra? No entender do PPM, sobra ele e um post que escreveu no 31 da Armada. Fizemos uma rábula para um milhão e meio de espectadores por causa de um post do PPM no 31 da Armada. Mandei uma mensagem ao Herman a dar-lhe razão por causa de um post do PPM no 31 da Armada. E dei-lhe razão porque, como é óbvio, foi para isso que ele me advertiu. “Põe-te com brincadeiras e vais ver que, um dia destes, o PPM faz um post sobre ti no 31 da Armada”, foram as palavras exactas dele. “Tinha razão, Herman”, disse-lhe eu agora.
Há, no meio disto tudo, um pormenor que pode intrigar o leitor. Se eu já interpretei tantas personagens apalermadas e de discurso incoerente, porque é que o PPM só se sentiu retratado agora? Boa pergunta, leitor. Vagamente insultuosa, mas boa. Eu respondo: por duas razões. Primeiro, porque quando eu disse que a RTP e o Provedor não nos tinham pressionado, a jornalista tirou conclusões que não são as minhas. Segundo, porque a crítica do PPM segue, digamos, a mesma matriz ideológica que o pequeno poder (e, às vezes, não tão pequeno como isso) perfilha. Aliás, a crítica do PPM não é nova, nem é só dele. Já tinha sido usada para pedir a nossa imparcialidade em relação a Salazar e Cunhal. Ou em relação a Pinto da Costa e Luís Filipe Vieira. Ou em relação à Floribella e à Doce Fugitiva. Mas dizem-me que é intelectualmente desonesto falar nisto.
Parece que o que é intelectualmente honesto é dizer que um programa humorístico de sátira social e política deve ser imparcial (argumento espantoso). Ou dizer que criticar o prof. Marcelo é fazer campanha pelo Sim. O próprio prof. Marcelo diz que foi criticado por muitos defensores do Não – o que só pode significar que, pelos vistos, há gente do Não a fazer campanha pelo Sim.
PPM, referindo-se ao sketch sobre o prof. Marcelo, diz que, “em plena campanha eleitoral” quisemos “ridicularizar os argumentos de um dos lados em confronto no referendo”. Primeiro, o prof. Marcelo não representa o Não. Ele mesmo, aliás, afirma que há vários Nãos. Segundo, a nossa rábula sobre o prof. Marcelo foi transmitida no domingo, dia 28 de Janeiro. A campanha começou na terça-feira, dia 30. Dizer que fizemos o sketch “em plena campanha eleitoral” é, portanto, uma… Bom, parece-me que não há maneira delicada de o dizer: é mentira.
Não posso deixar de fazer referência às últimas palavras de PPM, que me parecem interessantes: “Ricardo Araújo Pereira pode dizer que não me conhece de lado nenhum, como disse ao 24 Horas. Pode, mas estará a faltar à verdade se o repetir em relação ao Rodrigo Moita de Deus.” Quero agradecer, penhorado, que PPM me autorize a dizer o que eu disse. Já é mais do que costuma fazer, e registo a evolução democrática. Agradeço ainda mais que me ponha de sobreaviso em relação à veracidade do que eu não disse mas, por uma razão que neste momento me escapa, poderei vir a dizer.
Uma nota final: estou muito habituado às críticas do PPM, que têm, aliás, sempre o mesmo sentido. Normalmente, comento-as aqui mesmo. Na televisão e na imprensa, costumo satirizar gente que a generalidade do público conhece, e que diz coisas ridículas. Enquanto o PPM continuar a preencher apenas um destes requisitos, pela minha parte também continuarei a responder-lhe apenas aqui no blog. Por isso, e para evitar confusões futuras, gostava de sublinhar o seguinte: se, um dia, eu interpretar uma personagem megalómana, moralista e que mente para fazer valer os seus argumentos, o mais provável é que eu não esteja a satirizar o PPM. Há mais Marias na Terra. RAP
posted by Gato 1:12 da manhã
terça-feira, fevereiro 06, 2007
TOP SECRET: Uma antiga secretária da Coca-Cola pode cumprir pena de prisão por ter tentado vender segredos comerciais à Pepsi. Parece que a senhora se preparava para revelar à concorrência que a Coca-Cola é uma água gaseificada com açúcar e sabor a caramelo, vendida em todo o lado. TD
posted by Gato 3:59 da tarde
RÁPIDO, O TEMPO ESCASSEIA: De acordo com o cardiologista Sandeep Gupta, por cada cigarro que se fuma perde-se onze minutos de vida. Para os fumadores a solução é óbvia: têm de passar a fumar mais depressa. TD
posted by Gato 2:23 da tarde
segunda-feira, outubro 16, 2006
Qual é a melhor coisa para fazer num Sábado à noite? Tirando sair com os amigos. E ficar a namorar em casa. Ou ir ao cinema. Ou navegar na Internet. Ou estudar para um teste de matemática. E arrancar um dente, vá. Ok, portanto, qual é a sétima melhor coisa para se fazer num Sábado à noite? Parece-nos óbvio que é vir assistir à gravação do novo programa do Gato Fedorento.
Resumindo: se não tens amigos, não namoras, não tens Internet e és um génio da matemática desdentado, manda um mail para gatofedorento@producoesficticias.pt com o teu nome, idade, profissão, contacto telefónico e os programas que costumas ver na televisão.
Se não fores, manda também. E despacha-te. O primeiro é já para a semana. E é na sexta. Mas, se não arranjas programa melhor para um Sábado, é provável que também não arranjes para a sexta.
posted by Gato 1:34 da tarde
segunda-feira, setembro 18, 2006
MEXENDO NO LIXO: Este é longo, desculpem lá.
No Sábado, em Alvalade, houve um golo marcado com a mão. Apesar de o árbitro o validar, apesar de Ronny, o marcador, negar tê-lo marcado com a mão, a verdade é que o golo é irregular.
É uma boa analogia para o que se passa nos bastidores do futebol português. Os tribunais consideram as escutas inválidas, a lei pode ser inconstitucional, os intervenientes podem dizer que é uma “situação normal”. Mas a verdade é que as conversas tiveram lugar e que são criminosas.
Apesar disto se passar no futebol, não é nos jornais desportivos que lemos sobre estas coisas, é noutras publicações. Por isso, num inquérito para o jornal Record, quando me perguntaram “o que gostaria de ler amanhã no Record?”, eu respondi “uma notícia qualquer sobre escutas e corrupção, que não seja primeiro dada nos jornais generalistas.”
Passados alguns dias, o director do Record, Alexandre Pais, escreveu isto:
“José Diogo Quintela disse, nestas colunas, que gostaria de ler amanhã no Record "uma notícia qualquer sobre escutas e corrupção que não seja primeiro dada nos jornais generalistas". Trata-se de um desejo difícil de concretizar, pois quando o futebol perder de todo a credibilidade - traído por aqueles a quem dá de comer - aos generalistas não faltarão outros temas para exibir barba rija. Mas, morto o futebol, o Record perderá a razão de existir.
Que mexam no lixo que os tribunais largaram. Nós pertencemos a um circo que vive de emoções - de golos e de erros, títulos e de frustrações. E não temos vergonha disso.”
Confesso-me espantado. Por duas razões: primeiro, por dar mais importância a esta resposta do que à que eu dou à pergunta “Morangos com Açúcar ou Floribella”, de superior interesse. Segundo, pela assunção sincera da conivência da imprensa desportiva com as burlas do futebol português.
Há conversas (que ninguém desmentiu) em que se fala de comprar árbitros para influenciar resultados. De jogos de futebol. Que é um desporto. Coberto pelos jornais desportivos. Não totalmente, digo eu.
E Alexandre Pais vem dizer, com desfaçatez, que não vai mexer no “lixo que os tribunais largaram”. Acho que não sabe que, ao não querer falar nisso, Alexandre Pais e os outros jornais desportivos estão, no mínimo, a forrar o caixote onde está esse lixo. É que os tribunais podem ter largado o lixo, mas não foram os tribunais que o fizeram. Foram aqueles que, pelos vistos, “dão de comer” aos jornais desportivos. Curiosa expressão. Julgava que quem dava de comer eram quem pagava, i.e. os leitores.
Pelos vistos, quem dá de comer são os dirigentes a quem os jornalistas prestam vassalagem. Aliás, exagero. Não são os jornalistas. Quem, conscientemente, sonega informação aos leitores, não é um jornalista. É, porventura, um divulgador da actividade desportiva. Faz agendas e dá resultados, vá lá. E a “morte do futebol”, em vez de ser evitada por este silêncio, é ajudada.
Gosto especialmente quando Alexandre Pais diz “. Nós pertencemos a um circo que vive de emoções – de golos e de erros, títulos e de frustrações.” Para já, porque é uma afirmação peca por defeito. É preciso acrescentar que há emoções que são falsas, porque há golos roubados, erros combinados, títulos pagos e frustrações que não têm que ver com o que se passa no campo, mas sim com o que se passa num restaurante qualquer de beira de estrada, onde a um fiscal de linha é prometida uma meretriz e um telemóvel com 3G, novinho em folha.
Depois, gosto da frase porque parece estar a insinuar que quem silencia, fá-lo porque gosta de futebol. Como se nós, os tagarelas e curiosos, não gostássemos. Não só isso, estamos a contribuir para a falada “morte do futebol”. E, como tal, para o fim da razão do Record existir. Mas, tão facilmente como Alexandre Pais diz isto, eu inverto o argumento: quem não gosta de futebol e contribui para a sua morte é quem silencia, e, se é para prestar esse serviço, se calhar não faz sentido o Record existir. Quem diz Record, diz qualquer um dos outros dois diários desportivos que teimam em fingir que nada passa.
Alexandre Pais finaliza com “e não temos vergonha disso”. É de louvar a admissão, mas é redundante. Já se tinha percebido que não têm vergonha. Mas não são os únicos.
Ps – para mais informação, leiam este texto da Leonor Pinhão, n’A Bola. A parte mais sumarenta é esta:
"Há 20 anos, ou talvez mais, dois jogos decisivos da derradeira jornada de uma série qualquer dos campeonatos distritais de futebol terminaram com resultados impensáveis. Qualquer coisa como 18-6, um, e 21-7, o outro.
Na altura eu era jornalista de A BOLA. Todos os domingos recebia as chamadas telefónicas dos correspondentes locais e tomava nota dos jogos e das classificações. O despropósito dos números dos golos daqueles dois jogos motivou-me a querer saber porquê e como e quem.
A curiosidade profissional foi rapidamente satisfeita. Os dois clubes supergoleadores de terras vizinhas disputavam entre si a subida de escalão e estavam igualados em pontos a uma jornada do fim. A temporada iria resolver-se pela diferença de golos. E até nesse pormenor as duas equipas rivais tinham um score idêntico.
E todos tiveram a mesma ideia. Os guarda-redes das equipas adversárias foram amaciados, os árbitros foram sensibilizados, alguns jogadores das equipas pretendentes à subida rubricaram exibições não menos estranhas e marcaram golos na própria baliza. Os dois resultados avolumaram-se até ao ponto da demência. E porquê? Porque cada equipa tinha um espião no campo do adversário. A missão do espião era correr para o telefone do café mais próximo sempre que houvesse um golo e informar os da sua cor da marcha do marcador.
Nunca dois espiões correram tanto e telefonaram tanto. E, assim, dentro das quatro linhas os jogadores iam sabendo como paravam as modas e os golos que tinham de deixar entrar, uns, e que tinham de marcar, outros.
A história tinha pinceladas neo-realistas. Cheguei a falar com algumas testemunhas dos acontecimentos e houve uma (torcia pelo clube que acabou por ficar em segundo lugar e não subir) que me garantiu ter a GNR ajudado o clube adversário ao disponibilizar ao espião os meios sofisticados de comunicação telefónica da sua carrinha destacada para manter a segurança pública do espectáculo.
Recolhida esta primeira dose de informação dirigi-me ao mítico chefe de redacção de A BOLA, Vítor Santos, e, contando o que já sabia, pedi autorização para me deslocar até às duas localidades em questão para fazer uma reportagem.
— Para fazer o quê? — perguntou o meu chefe.
— Uma reportagem. Falar com os dirigentes, com os jogadores, com os espectadores…
— Pois, pois…
— Ia eu e um fotógrafo. É uma grande história, chefe! — insisti num entusiasmo pueril.
Mas não tive sorte nenhuma.
— Sabes, rapariga, eu acho melhor não tocar nisso — disse-me o Vítor Santos.
Olhou-me nos olhos, inclinou-se para trás na sua cadeira de chefe e cruzou as mãos em cima da barriga.
— Não tocar nisso?— Nem ao de leve. Essas coisas existem, sempre hão-de existir mas torná-las públicas faz mal ao futebol e nós, jornalistas, não podemos fazer mal ao futebol." ZDQ
posted by Gato 3:22 da tarde
terça-feira, agosto 15, 2006
A MINHOCA E A MAÇÃ: Durante a discussão sobre a natureza do salazarismo, e depois de assinalar, com o fastio do costume, a ignorância grotesca do adversário, Vasco Pulido Valente recomendou-lhe esta reflexão: “Vítor Dias que puxe pela cabeça: existe em Portugal alguém ou alguma coisa a que o PCP já não chamou ‘fascista’?” Bom argumento. De facto, a repetição exaustiva da mesma acusação desacredita o acusador. Proponho, por isso, outra reflexão. Vasco Pulido Valente que puxe pela cabeça: existe em Portugal alguém ou alguma coisa a que Vasco Pulido Valente já não tenha chamado "ignorante"? RAP
posted by Gato 1:09 da manhã
sexta-feira, julho 28, 2006
UMA CONSPIRAÇÃO DE HISTÉRICOS: Ena, este tem epígrafe e tudo.
A man who moralises is usually a hypocrite.
Oscar Wilde
Uma vez por outra, a gente exagera. Felizmente, há sempre quem, dotado do bom-senso que nos falta, tenha a generosidade de nos carrilar no trilho da moralidade. Excedi-me em certos textos que publiquei aqui, e a notícia da minha blasfémia saiu, apropriadamente, no Blasfémias. O professor Carlos Abreu Amorim resolveu dar-me uma lição. Refere-se a mim neste texto, sem mencionar o meu nome nem fazer enlace para o que escrevi – atitude que, em si, já contém alguma pedagogia.
Em minha defesa (se é que tenho alguma) devo dizer que, quando escrevi o que se lê aí para baixo, o meu raciocínio foi este: o que se passava com o Abrupto era uma palermice passageira. Um pateta com demasiado tempo livre aproveitava uma falha do Blogger para aborrecer o autor de um blogue. Assim que os informáticos pálidos e com óculos grossos do Blogger conseguissem resolver o problema, o informático pálido e com óculos grossos que naquela altura perturbava o Pacheco Pereira voltaria a dedicar as noites aos sítios de pornografia – onde, aliás, se divertiria mais e melhor. Posto isto, e uma vez que ninguém morrera, falira, caíra em desgraça ou sequer contraíra herpes labial, acreditei que se podia rir do assunto – sobretudo da dramática pose de mártir do Pacheco Pereira. O professor Carlos Abreu Amorim ensinou-me que não. Nem desenhos sobre Maomé nem graças sobre o Abrupto. Todo o riso sobre o blog do Pacheco Pereira é alarve. Quem ousa deixar de exibir a mais funda consternação quando “o blogue de comentário político com maior audiência em Portugal” sofre um ataque (pausa para verter uma lágrima) tão vil? É preciso não esquecer que se trata do blogue “que mais influência tem no incremento da nossa blogosfera”, e ai de quem não estiver sempre ao lado de quem mais influencia o incremento. A nossa blogosfera precisa de quem a incremente como do pão para a boca. Não preciso de chamar a atenção para outras blogosferas que, por não serem incrementadas pelo Pacheco Pereira, definham e acabam por falecer sem honra.
Confesso que só compreendi toda a gravidade do problema quando o professor Carlos Abreu Amorim me fez ver a situação de “sabotagem inadmissível” em que o Pacheco Pereira se encontra: um homem que, nos dez dias em que o ataque ao blogue dura, publica nesse mesmo blogue cerca de 50 (cinquenta) entradas de texto, incluindo várias que descrevem minuciosamente o modo como um pirata o anda a amordaçar, está clara e inadmissivelmente amordaçado. Quando o apanharem, tudo o que seja menos que a pena de morte, para este pirata, saberá a pouco.
O professor Carlos Abreu Amorim ensinou-me também que, embora não seja a primeira vez que uma coisa semelhante acontece a um blogue, nem mesmo a um blogue português, desta vez é que é grave. Desta vez estamos perante uma “questão” – que tem uma “essência” (como é quase sempre inevitável nas questões), e todos devíamos estar recolhidos a reflectir sobre ela. O ataque ao Abrupto não é uma parvoíce incipiente – é um golpe no coração da democracia e, suspeito, da própria civilização ocidental. Acredite que quero manifestar sincero repúdio, professor. Quero clamar por justiça. Quero pagar, do meu bolso, uma quadrilha de carpideiras. E quero anunciar a todos que quem me ensinou a condenar o riso alarve foi o autor desta divertida nota sobre a Constança Cunha e Sá. E ai de quem se rir disso. RAP
posted by Gato 5:54 da tarde
quarta-feira, julho 26, 2006
O CINISMO É MESMO MUITO FEIO: Como todas as pessoas decentes, estou indignadíssimo com o que se tem passado no Abrupto. É um escândalo que um bandido consiga substituir o Pacheco Pereira no blog e não faça o mais pequeno esforço para o substituir na Quadratura do Círculo. Prioridades, meu caro, prioridades. RAP
posted by Gato 2:55 da manhã
O CINISMO É MUITO FEIO: Recomendo este novo e excelente blogue. Pena é que, volta e meia, o blogue apareça substituído por um outro, não tão interessante. RAP
posted by Gato 2:16 da manhã
sábado, julho 22, 2006
MANIFESTO PRÓ-PACHECO PEREIRA: Amaldiçoado seja o palerma que anda entretido a piratear o Abrupto – ou, se a maleita do blogue é devida a erro informático, maldito seja então esse amontoado defeituoso de zeros e uns. Que arda no Inferno a besta – humana ou cibernética – que ofereceu ao Pacheco Pereira a sua última glória: o martírio. Alguém quer calar o Pacheco Pereira. Porquê? Ninguém sabe. O Pacheco Pereira incomoda. Quem? Ninguém diz. Mas o bravo Pacheco Pereira persistiu, agarrado ao leme do blogue, e depois de tremer três vezes escreveu este post veemente. Veementemente escrito a negrito, para percebermos que o autor vocifera, e sublinhado a amarelo veementemente, para percebermos que o autor investe. Sobre quem? Ninguém percebe. Mas o leitor que não esteja preparado para tanta veemência em tão poucas linhas não deixará de se comover. Trata-se de um pequeno mas lancinante grito de insurreição em que a preposição “desde” (a mais insurrecta das preposições) é protagonista. “Desde o momento em que não sei quê”, principia Pacheco Pereira. Mas “desde o início da tarde que não sei que mais”, prossegue depois. Pelo meio recebeu mensagens de conforto, o que aproveita para agradecer “desde já”. No fim, a promessa que nenhum homem decente conseguirá ler sem que os olhos se lhe encham de água: “podem ter a certeza de que aconteça o que acontecer o Abrupto continuará. Não será por esta via que acabam com ele.” “Acabam”, diz ali. O sujeito permanece indeterminado, mas agora temos um plural. Eles. Ah, perniciosa matilha. Quem serão? Os comunistas, os socialistas, os próprios sociais-democratas? Os jornalistas, os informáticos, os benfiquistas? Os bombeiros, os travestis, os profissionais do sector dos lacticínios? Ninguém arrisca um palpite. E, de facto, que se saiba, o blog prossegue como dantes, de modo que não chegamos a perceber se é a mordaça que é reles e barata ou se é a boca do censurado que de modo nenhum se deixa amordaçar, tão forte é a verdade das suas palavras. Também pouco importa, que o mal está feito. Apetece sair para a rua e escrever nas paredes “Ninguém há-de calar a voz do Pacheco Pereira”. Perder o acesso ao Abrupto seria, para nós, pecadores do século XXI, perder o contacto com a santidade. Porque o Pacheco Pereira é uma espécie de Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência, mas de âmbito mais alargado: observa todos os males do Mundo. E, assim como não há toxicodependentes no Observatório Europeu, também não há mal do Mundo que toque, sequer de raspão, em Pacheco Pereira. Há males nos blogues – mas não no de Pacheco Pereira. Há males na política – mas não na que Pacheco Pereira faz. Há males nos jornais – mas não nas páginas em que Pacheco Pereira escreve. Muito santo tem um homem de ser para passar impoluto num mundo tão indecente. E, no entanto, abre-se o blog do Pacheco Pereira e fica-se com o computador a cheirar a éter. O Pacheco Pereira é um desses semideuses de que fala o Álvaro de Campos no “Poema em Linha Recta”. Nunca levou porrada, nunca foi ridículo, nunca fez vergonhas financeiras. O Pacheco Pereira não se espanta, não se aleija, não tropeça, não duvida, não hesita, não ri. O Pacheco Pereira não faz um gesto que não o enobreça, não tem um prazer que não o edifique, não cede a um vício que não seja, vendo bem, uma virtude.
O Pacheco Pereira nunca escreve com as mãos sujas.
O Pacheco Pereira é um homem carregado de sentido.
Eu gostaria de adquirir uma viatura em segunda mão ao Pacheco Pereira.
O Pacheco Pereira cheira magnificamente da boca.
O Pacheco Pereira nu é belíssimo.
O Pacheco Pereira é de tal forma superlativo que já merecia ser elogiado no Abrupto pelo Pacheco Pereira.
O Pacheco Pereira publica opiniões de leitores: uns gostam imenso do que o Pacheco Pereira escreve; outros gostam ainda um pouco mais.
O Pacheco Pereira propõe discussões que normalmente envolvem a elaboração de listas. E os leitores discutem e elaboram.
De manhã, à hora a que a generalidade dos homens está a fazer a barba, o Pacheco Pereira está a pendurar poemas no blogue. E pendura-os com a mesma burocracia nos gestos com que os outros homens fazem a barba. Os homens não fazem comentários à barba e o Pacheco Pereira também não comenta os poemas. Os homens não se emocionam com a cara escanhoada e o Pacheco Pereira também não se emociona com os versos. Deus livre o Pacheco Pereira de ser tomado por uma das emoções humanas. O Pacheco Pereira exibe poemas como aqueles senhores, na rua, exibem os genitais. Abre a gabardina e mostra um soneto. Baixa as calças e revela uma ode.
Os poemas são escolhidos pelo Pacheco Pereira, mas há quem diga que podiam ser escolhidos por uma máquina, sem diferenças no resultado final. Sinceramente, duvido. Não creio que a máquina conseguisse escolhê-los tão automaticamente. RAP
posted by Gato 3:35 da manhã
segunda-feira, julho 10, 2006
TE SENTES DIFERENTE ENTRE OS DEMAIS: Haverá poucas coisas mais urgentes do que visitar o sítio oficial de Ana Malhoa. Ao cimo, à direita, estão dois botões: um para quem quer percorrer a página ao som da, digamos assim, música de Ana Malhoa, e um outro para quem deseja manter-se saudável. Há que optar bem. Somos recebidos (como se fôssemos dignos de tal honra) pela própria cantora. Percebemos imediatamente que chegámos em má altura, uma vez que apanhamos Ana Malhoa em cuecas – mas não é por lamentarmos o sucedido que deixamos de prosseguir. Diante de nós está, de facto, Ana Malhoa, de microfone na mão, dedicada àquilo que melhor sabe fazer: estar de boca aberta. Como veremos adiante, Ana Malhoa revela uma pertinaz incapacidade para se deixar fotografar com a boca fechada. Já lá iremos. Por ora, detenhamo-nos um pouco mais neste estupendo frontispício. Uma inquietação mortifica os visitantes (mesmo aqueles que já desligaram a música). Ana Malhoa apresenta-se com a mão na anca, e parece evidente que está aos gritos. O que falta aqui? A resposta é óbvia: falta uma canastra de peixe para vender. E é isso que inquieta.
O leitor atento nota ainda que a fotografia contém uma proposta (talvez mais que uma, mas só esta é que se pode verbalizar em público): Ana Malhoa propõe que o espectador relacione, por associação das expressões faciais, a identidade da artista com a do animal que traz estampado na camisola. O projecto, contudo, não é totalmente bem sucedido: se a boca e o sobrolho estão parecidos com os do tigre, já o olhar inteligente do bicho foi impossível imitar.
Agora, é indispensável visitar a secção “Foto”. Numa análise preliminar, dir-se-ia que o que mais surpreende e entusiasma, em Ana Malhoa, é o modo como o sublime e o rasca habitam a mesma morada – embora por vezes seja preciso estar mesmo muito atento para dar com o sublime. É aqui que percebemos a filosofia do sítio oficial de Ana Malhoa. Dito simplesmente, o que está em causa não é a música, é o traseiro. O rabo de Ana Malhoa é o grande protagonista da página, o que me é, aliás, muito conveniente. Em música serei um leigo – mas de nádegas, meus amigos, de nádegas percebo eu. Talvez seja importante começar por salientar que, em rigor, as nádegas são uma especificidade do ser humano. Há na natureza quartos traseiros, há chambão, há pernil? Há. Mas aquilo a que se chama nádega, a convexidade glútea tal como a conhecemos e amamos, só a posição erecta consegue proporcionar. Eis as três características exclusivas da humanidade: a consciência da morte, a capacidade de rir, e o cu. Sendo que, volta e meia, aparecem associadas: pessoalmente, já me ri de alguns rabos; perante outros, tive a percepção aguda da finitude (por exemplo, pensando: “Diacho. Muito provavelmente vou morrer sem palpar aquelas nádegas”). Portanto, quando Ana Malhoa subordina o seu sítio oficial ao rabo, está a ser, talvez, demasiado humana. Mas, ainda assim, original. Há várias representações de nádegas na história da arte, desde a esteatopigia da Vénus paleolítica até às Três Graças, de Rubens. Porém, nenhum artista teve a ousadia de representar o rabo como Ana Malhoa. Refiro-me, especialmente, à fotografia em que, de fato-de-banho e saltos altos, a cantora exibe o rabo agarrada a duas cadeiras, enquanto dirige ao espectador um olhar desconfiado por cima do ombro. Uma observação cuidada do rabo (e eu fi-la) revela uma faixa branca, não crestada pelo Sol, na base das nádegas. Essa faixa láctea é todo um manifesto. Como se, por intermédio do rabo, Malhoa nos dissesse: “Possuo umas nádegas tão fartas que até o Sol tem dificuldade em tisná-las todas.” Quantas mensagens há, por essa Internet, mais interessantes do que esta?
Chamo também a atenção para as fotografias de Ana Malhoa no banho. Muitos e bons pintores têm representado banhistas mas, uma vez mais, nunca como aqui. É uma vergonha para Cézanne, Picasso, Courbet e companhia, mas nenhum deles alguma vez se lembrou de pintar uma banhista num chuveiro com azulejos cor-de-rosa. Depois de contemplar Ana Malhoa no banhinho, parece-me óbvio que todo aquele que busca a beleza não pode continuar a negligenciar o poliban. RAP
posted by Gato 1:36 da manhã
sábado, julho 08, 2006
A CHAMADA EVOLUÇÃO NA CONTINUIDADE: Pauleta anunciou que não voltará a jogar pela selecção nacional. Isto significa que, no Europeu de 2008, teremos oportunidade de ver tantos golos do Pauleta como no Europeu de 2004. RAP
posted by Gato 10:14 da tarde
quarta-feira, julho 05, 2006
TRADUTORE, TRADITORE: Porquê ler os clássicos? Tanto barulho à volta desta pergunta quando a resposta está à vista de todos. Porquê ler os clássicos? Obviamente, para impressionar raparigas intelectuais. Não é, contudo, tarefa simples. Primeiro, porque as raparigas intelectuais se deixam impressionar menos pelos clássicos e mais pelo bíceps (no que se parecem imenso com as outras raparigas). Segundo, porque os clássicos são difíceis de ler. Há dias, abri as Gramáticas da Criação, do George Steiner (que não é um clássico mas já leu dois ou três, e às vezes faz resumos). Na primeira página diz assim:
“Today, in western orientations – observe the muted presence of morning light in that word – the reflexes, the turns of perception, are those of afternoon, of twilight.”
Ou seja, o bom Steiner ensina-nos que hoje, no Ocidente, somos tomados por uma sensação de término, de fim, de ocaso – e a propósito da palavra “orientações” propõe-nos que observemos nela a presença muda da luz matinal, uma vez que “orientações” deriva de oriente, isto é, do sítio onde o Sol parece nascer, onde principia a luz da manhã. Isto, meus amigos, impressiona. Há observações sobre o sentimento dos ocidentais, há crepúsculo matinal, há etimologia. Que mais pode uma rapariga querer? O problema é que eu li a tradução portuguesa, que diz:
“Hoje, entre as inclinações ocidentais – observe-se a presença muda da luz matutina deste mundo –, os reflexos, as inflexões da percepção são os da tarde, do crepúsculo.”
Está tudo estragado, não é? Desapareceu a nota sobre a palavra “orientações” (até porque a palavra, ela própria, desapareceu) e somos convidados a observar a luz matutina do mundo. Talvez as raparigas intelectuais do século XVIII ainda se deixassem levar pela contemplação da luz matutina do mundo. Mas, para que as raparigas intelectuais dos dias de hoje nos franqueiem a porta do quarto, é preciso mostrar-lhes a luz da manhã em qualquer coisa esquisita – como uma palavra. É essa a genialidade de Steiner, que o tradutor não soube verter para português.
Mais adiante, depois de lembrar que a Europa tinha acabado de viver um século de desenvolvimento e esperança, diz Steiner:
“It is in the afterglow, no doubt idealized, of this exceptional calendar (…) that we suffer our present discomforts.”
Quer dizer: a nossa inquietação actual surgiu na reminiscência daquele passado (“afterglow” é o sentimento de prazer que se segue a uma experiência agradável, a memória persistente de um passado glorioso). Na versão portuguesa aparece traduzido assim:
“É nos clarões póstumos, e sem dúvida idealizados, deste calendário excepcional (…), que vivemos o nosso actual mal-estar.”
Escuso de dizer que também não se convence ninguém com “clarões póstumos”. Paz à alma de quem libertou postumamente estes clarões, mas não há rapariga minimamente alfabetizada a quem a claridade póstuma faça qualquer espécie de mossa. Resta-nos o bíceps – o que, no meu caso, me deixa com muito pouco. Não consigo impressionar rapariga nenhuma. Assim não admira que eu permaneça absoluta e irremediavelmente casado.
Nota: Gramáticas da Criação foi editado em Portugal pela Relógio d’Água. A tradução é assinada por um dos mais conceituados tradutores portugueses: Miguel Serras Pereira. RAP
posted by Gato 1:18 da manhã
terça-feira, julho 04, 2006
DUAS CARREIRAS, DOIS ESTILOS: A grande diferença entre este serial killer de Santa Comba Dão e o outro é que este não mandava a PIDE fazer o trabalho. RAP
posted by Gato 10:20 da tarde
terça-feira, junho 27, 2006
OLHA! E não é que isto ainda funciona?
posted by Gato 11:08 da tarde
quinta-feira, janeiro 12, 2006
Queres afrontar os teus pais, mas sem te meteres na droga?
Tens uma promessa para pagar e ir de joelhos até Samora Correia não chega?
Gostavas de tocar no cabelo do Miguel para ter a certeza de que ele o corta a si próprio?
Então vem participar num sketch do Gato Fedorento, série Lopes da Silva.
Manda (ou envia, como preferires) um mail com os teus dados pessoais (nome, idade, medidas, telefone, mail, número de contribuinte e música predilecta dos Beach Boys) e uma fotografia para gatofedorento@producoesficticias.pt
Prometemos escrutinar os candidatos todos com isenção e escolher as parecidas com a Soraia Chaves.
posted by Gato 5:19 da tarde
terça-feira, novembro 08, 2005
No próximo sábado, dia 12, pelas 22 h, terá lugar, no prestigiado estabelecimento comercial FNAC, sito no Chiado, aquele que já foi considerado indiscutivelmente o grande acontecimento do fim de tarde/princípio da noite de Sábado próximo: o lançamento do DVD do Gato Fedorento – Série Meireles.
Com medidas de segurança ainda mais apertadas do que as do lançamento do último livro de Harry Potter, será posto à venda, precisamente às 23:17, após uma contagem decrescente, o primeiro exemplar do DVD. Logo de seguida, será posto à venda o segundo exemplar. Depois o terceiro, seguido do quarto, do quinto e, se não estamos em erro, do sexto, e por aí fora, até as pessoas se fartarem de adquirir ou o Sr. António Luís Fnac, proprietário do estabelecimento, ter de fechar a loja para se ir deitar.
O lançamento incluirá: uma grandiosa mostra de sketches, um grandiloquente spot informativo, uma sumptuosa conferência de imprensa, um bastante razoável espaço para perguntas e respostas e uma fraquinha sessão de autógrafos.
posted by Gato 12:56 da tarde
segunda-feira, junho 27, 2005
Hoje, vai para o ar o oitavo episódio do Gato Fedorento com os sketches: "Agente faz pouco de condutor", "O Duelo", "Não faça trocadilhos com a minha profissão", "Estenógrafo apaixonado por teatro de revista", "Ninguém lamenta mais do que eu" e "Homem na bagageira".
posted by Gato 10:40 da manhã
domingo, junho 26, 2005
CASMURRO NO ESTÔMAGO: É só para dizer que o melhor blog de sempre começou a ser escrito no dia 12 deste mês. RAP
posted by Gato 1:41 da manhã
segunda-feira, junho 20, 2005
Hoje, segunda-feira, às 21:30, passa o sétimo episódio da terceira série do Gato Fedorento. Inclui os sketches "Juiz lê sentença", "A mulher que faz apartes bastante compridos", "Psicólogo de objectos inanimados", "Cavalheiro corteja dama", "Fã pede autógrafo" e "O homem que só deseja coisas a troco de dinheiro".
posted by Gato 7:31 da manhã
quarta-feira, junho 15, 2005
Na segunda-feira, às 21:30, passou o sexto episódio da terceira série do Gato Fedorento com os sketches: "Jardim com indivíduos do século XIX", "Voto de foleirice", "Acumulação de material girls" e "O meu filho é uma jóia de moço". Repete, hoje, às 23:30.
posted by Gato 11:35 da manhã
quarta-feira, junho 01, 2005
Na passada segunda-feira, às 21:30, passou na SIC Radical o quinto episódio da terceira série do Gato Fedorento, com os seguintes sketches: "Há um médico na sala?", "Feno da Galileia", "Conversas com empregados de mesa", "É melhor chamar o Fernando", "Diálogo sobre o arrependimento" e "Cuidado com os rebentamentos". Repete hoje, quarta-feira, às 23:30.
posted by Gato 10:23 da manhã
quarta-feira, maio 25, 2005
Quinta-feira, dia 26, às 21:30, o livro “Gato Fedorento, o blog” (uma selecção dos textos que compõem este blog editada pela Cotovia) vai ser lançado na Feira do Livro do Porto, com a presença dos autores. No Sábado, dia 28, também às 21:30, a mesma sessão realizar-se-á na Feira do Livro de Lisboa.
posted by Gato 1:39 da tarde
segunda-feira, maio 23, 2005
CONCURSO "QUEM É MAIS BENFIQUISTA?" Em homenagem ao novo campeão nacional, aqui fica a transcrição do último sketch que 3/4 do Gato Fedorento gravou exclusivamente para passar nos écrans gigantes do Estádio da Luz (por ocasião do Benfica-Sporting).
Num cenário de concurso, Benfiquista 1 e Benfiquista 2 estão a gritar um com o outro. Apresentador assiste impavidamente.Benfiquista 1
Você? Você não é mais benfiquista do que eu!
Benfiquista 2
Desculpe lá mas sou! Eu sou muito mais benfiquista do que você!
Benfiquista 1
Ai não é, não!
Benfiquista 2
Ai sou, sim senhor!
Apresentador
Boa noite. É justamente para evitar este tipo de quezílias entre os sócios mais fanáticos que inventámos o nosso concurso “Quem é mais benfiquista?” Meus senhores, estão preparados?
Benfiquista 1
Avança lá com isso, pá.
Benfiquista 2
Vá lá ver...
Apresentador
Pergunta nº1 para ver quem é mais benfiquista: “Qual é o vosso número de sócio?”
Benfiquista 1
Ah, ah, ah! Está no papo.
(saca do cartão de sócio)
Eu sou sócio desde 1904. Cá está: sócio nº1.
Apresentador
A sério? Está muito bem conservado. Bom, nem vale a pena perguntar-lhe a si porque, se este senhor é o sócio número 1...
Benfiquista 2
Vale a pena, vale. Eu sou sócio desde 1867.
Apresentador
1867? Mas nessa altura ainda nem sequer havia Benfica.
Benfiquista 2
Pois, mas o meu avô, pelo sim pelo não, inscreveu-me logo, para o caso de vir a haver.
(saca do cartão de sócio)
Aqui está: sou o sócio –13.
Apresentador
Bom, nesse caso está 1-0 para si. Vamos à 2ª pergunta: quando é que inscreveram os vossos filhos como sócios do Benfica?
Benfiquista 2
Ah, ah! Ainda estavam na barriga da mãe.
(saca de uma ecografia)
Vim cá inscrevê-los com a ecografia. Olhem para isto: o puto com três meses até tinha a forma de uma águia.
(olha melhor para a ecografia)
Bom, se calhar tinha a forma de um feijão. Mas, se for a ver, é um feijão arraçado de águia.
Apresentador
E você?
Benfiquista 1
Isso para mim não é nada.
(saca de um teste de gravidez)
Eu inscrevi o meu puto com o teste de gravidez da minha esposa. Vim cá e disse ao senhor da secretaria: “Ó chefe, está a ver este risco vermelho? É o meu filho. Tire a foto, que é para fazer o cartãozinho”.
Apresentador
Bom, e o ponto vai para si. Está 1-1. E vamos à terceira e última pergunta: onde é que se casaram com as vossas esposas?
Benfiquista 2
Eu casei-me na Farmácia Franco, em Belém, onde o Benfica foi fundado. A certa altura, diz-me o padre: “Aceita casar com este trambolho que aqui está na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, nas vitórias e nas derrotas do Glorioso?” E digo eu: “Aceito, sim senhor. E já agora dá-me aí uma aspirina, que já me dói a cabeça”.
Apresentador
E o senhor?
Benfiquista 1
Eu celebrei o sagrado matrimónio no relvado do estádio da Luz. À socapa. Eu e a minha patroa saltámos a vedação e demos o nó exactamente no mesmo sítio onde o Eusébio dava nós aos adversários.
Apresentador
Bom, e parece que temos um empate. Vocês os dois têm exactamente a mesma quantidade de benfiquismo. Já agora, por quanto é que o Benfica vai ganhar hoje?
Benfiquista 1 e 2
(em uníssono)
15 a 0! 15 a 0! 15 a 0!MG/RAP/TD
posted by Gato 8:06 da tarde
E finalmente... Coimbra. Dia 17 de Junho, às 21:30, o espectáculo do Gato Fedorento ao vivo vai realizar-se no Novo Pavilhão Multidesportivo de Coimbra.
Mas, antes, ainda vamos voltar ao Tivoli na próxima segunda-feira, dia 30 de Maio, às 21:30, para fazer um espectáculo cuja totalidade das receitas reverte para a Instituição Privada de Solidariedade Social Centro Dr. João dos Santos - Casa da Praia, uma instituição de ensino para crianças com dificuldades de aprendizagem. Os bilhetes já estão à venda na ticketline e na bilheteira do Tivoli.
posted by Gato 2:52 da tarde
Hoje, às 21:30, a Sic Radical transmite um novo episódio do Gato Fedorento. Desta feita, com os sketches "Jesus irrita-se", "Novo Dicionário de Língua Portuguesa", "Últimos desejos", "Dá-me de força", "Super-Irritante" e "Conversa entre estudiosos da botânica".
posted by Gato 12:40 da tarde
segunda-feira, maio 16, 2005
Esta segunda-feira, às 21:30, passa na SIC Radical o terceiro episódio da Série Barbosa, que inclui os seguintes sketches: "Sobrevivente de desastre de aviação", "Esplanada de Mailer", "Funcionário que bolsa", "Condutor de ambulância" e "Deputado dirige-se à Assembleia".
posted by Gato 2:47 da tarde
segunda-feira, maio 09, 2005
Esta segunda-feira, às 21h30, irá para o ar o segundo episódio da terceira série do Gato Fedorento. Incluirá os sketches "Jesus ensaia outras figuras de estilo", "Isso é uma teima?", "Matarruanos dão indicações", "O homem que sabe tudo sobre vaginas" e "O polícia que prova tudo".
posted by Gato 10:50 da manhã
quinta-feira, abril 28, 2005
Na próxima segunda-feira, às 21:30, estreia na SIC Radical o primeiro episódio da terceira série do Gato Fedorento. Incluirá os sketches "Mira, meu Miguel: um documentário etnográfico", "O médico hipocondríaco", "Teste de bazófia", "Administração do condomínio" e "Debate com o Super-Homem".
posted by Gato 1:43 da tarde
segunda-feira, abril 18, 2005
A pedido de muitas famílias com demasiado tempo livre nas mãos, o espectáculo ao vivo do Gato Fedorento vai voltar a Lisboa nos dias 12, 13 e 14 de Maio, no Teatro Tivoli. No dia 14, o espectáculo vai realizar-se à tarde, uma vez que, à noite, há coisas ligeiramente mais importantes, como é o caso de um Benfica-Sporting. Os bilhetes já estão à venda no Teatro Tivoli e na Ticketline.
Resumindo:
28 e 29 de Abril - Santa Maria da Feira (Europarque)
12, 13 e 14 de Maio - Lisboa
21 de Maio - São Miguel (Açores)
posted by Gato 4:02 da tarde