Gato Fedorento

quarta-feira, janeiro 07, 2004

Lamentavelmente, esta Sexta-feira, 9 de Janeiro, às 9 da noite, estreia na SIC Radical o Gato Fedorento, criado, escrito e interpretado pelos quatro autores deste blog. Por enquanto, com apenas 15 minutos – em vez dos 25 que virá a ter – para minimizar o choque dos espectadores mais sensíveis.
Nesta primeira emissão, poderão ver (se não conseguirem mudar de canal a tempo) sketches como “A Mulher que Só Diz a Última Sílaba das Palavras”, “Testemunhas de Acidente Rodoviário”, “Final Olímpica dos 100 Metros Ciganos”, “Não Se Brinca com Deus” e “O que Tu Queres Sei Eu”.

Repete Terça às 9.30h, Quinta às 15h e Domingo às 16.30h.

Em compensação, e para evitar sobrecarga de fedor na comunicação social, o Gato Fedorento saiu (e foi para fora) do Inimigo Público, embora, a título individual, todos continuemos a colaborar com o suplemento.

E agora, para dar um ar profético a tudo isto, uma citação em latim:

"Lucilia est impigra puella et scholam frequentat cum condiscipulis"

posted by Gato 5:53 da tarde

segunda-feira, janeiro 05, 2004

PROFISSÃO DE SONHO: Enquanto a maior parte dos meus colegas de primária sonhava em pilotar aviões ou apagar fogos florestais, já eu acalentava o sonho de aceder à mais nobre das profissões: ser representante do governo civil. Tudo começou no dia em que assisti, pela primeira vez, a uma extracção da Lotaria Nacional. Na altura, tinha 7 anos e aquele momento mudou a minha vida para sempre. Quem seriam aqueles três indivíduos, vestidos de forma tão discreta, sentados atrás daquela mesa, de aspecto taciturno? Qual era a sua missão? Que segredos se escondiam por detrás daqueles rostos aparentemente inexpressivos?
Era pequeno demais para encontrar respostas para estas interrogações. Mas o bichinho da representação do governo civil ficou para todo o sempre dentro de mim. Lembro-me que, para além de todos os outros aspectos fascinantes, o que mais me impressionou foi a forma como as bolas saltitavam dentro da tômbola, nitidamente consternadas por saberem que todo os seus movimentos estavam a ser acompanhados pelos olhos de águia daqueles três justiceiros dos concursos públicos. Tivesse eu perdido essa transmissão televisiva e, hoje, estaria provavelmente a salvar vidas numa sala de operações, ou a fazer fortuna na bolsa.
Por volta dos 11 anos, já acompanhava a minha avó ao bingo e vigiava atentamente todos os movimentos da rapariga que removia as bolas. Aos 15, tive o meu momento de glória. Uma funcionária mais inexperiente confundiu, de forma imperdoável, um 6 com um 9, votando ao desprezo uma dos grandes invenções de Alexander Greplin (1876-1923): o traço por debaixo do 6 ou do 9, por forma a não gerar desagradáveis equívocos. Desse dia, guardei na memória o olhar de agradecimento de uma reformada presente na sala que, graças à minha correcção, fez linha e arrecadou mil quatrocentos e cinquenta e três escudos (antes dos impostos).
Aos 23, o meu primeiro trabalho como representante-estagiário do governo civil. Ainda me lembro como as minhas mãos tremiam, com o fantasma do falhanço a assombrar-me a alma, enquanto retirava de uma tômbola o cupão vencedor de uma magnífica máquina de costura. Apesar do nervosismo, o meu chefe considerou-me um dos mais promissores profissionais que conhecera e destacou a forma como eu insisti em dar mais meia-volta à tômbola, quando já praticamente toda a gente se tinha dado por satisfeita. Isso e o sobrolho carregado, na altura de anunciar o nome do vencedor.
Hoje, sou um representante do governo civil consagrado. No entanto, ainda me perturba a forma como a sociedade portuguesa se recusa a prestar a devida homenagem a estes profissionais abnegados. Lembrem-se que milhões de portugueses assistem aos sorteios do Totoloto. Mas apenas os representantes do governo civil é que são pagos para isso. Por isso, sonho com o dia em que o meu filho mais novo, exactamente antes de iniciar uma rixa com um colega da primária, em pleno recreio, diga, com orgulho: “O meu pai é representante do governo civil e bate no teu”. MG
posted by Gato 11:23 da manhã

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Um blog com opiniões, nenhuma das quais devidamente fundamentada. Mantido por: Tiago Dores, Miguel Góis, Ricardo de Araújo Pereira e Zé Diogo Quintela. E-mail: gatofedorento@hotmail.com

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