quinta-feira, outubro 30, 2003
A MIM NÃO: Ouço a Provedora da Casa Pia dizer que, neste caso da pedofilia, “somos todos [portugueses] responsáveis”.
Eh, pá, desculpem lá, mas eu não sou. Não sou pedófilo. Não tenho conhecimento de que alguém das minhas relações seja. Não sabia da história da Casa Pia até à prisão do Bibi. Vão-me desculpar, mas eu não tenho nada a ver com isto.
A léria do “somos todos responsáveis” é só uma variação do tipicamente português “ninguém tem a culpa”. É uma forma de irresponsabilidade sofisticada. Alguma luminária diz: “rapaziada, desta vez, a culpa não morre solteira! Vamos todos casar com ela!” Como somos todos, acaba por não ser ninguém a cumprir com os deveres conjugais.
Mas isso não pega. Há responsáveis? Claro. São muitos? Certamente. Mas não são "todos nós". São (e faço contas de cabeça): os pedófilos; os angariadores; os facilitadores (dentro da casa pia); toda a gente (funcionários da Casa Pia, parentes de pedófilos e das crianças, etc) que soube e calou; os agentes da autoridade que tiveram conhecimento e que abafaram. Haverá mais, não sei.
Agora, eu não sou de certeza. Não me tentem arrastar para isto. ZDQ
posted by Gato 1:02 da tarde
HUMMMM... Reparo agora que ouço muitas conversas de estranhos, no café. Isto não pode fazer de mim boa pessoa. ZDQ
posted by Gato 1:01 da tarde
EXCESSO DE ZELO: O governo está muito empenhado na tentativa de fazer os portugueses deixarem de fumar. Demais, diria eu. Só o excesso de entusiasmo explica que um dos ditos publicados nos maços de tabaco seja “fumar reduz o fluxo de sangue”. Será que esta mensagem é forte o suficiente para fazer alguém deixar de fumar? Não creio. Acho até que encoraja algumas pessoas a fumar mais. Ouvi esta conversa entre duas raparigas, num café: “Veio-me o período, caraças!”, disse a primeira. “Tenho um pensinho, queres?”, respondeu a segunda. “Não, deixa estar. O fluxo é muito grande. Dá-me antes um cigarro”.ZDQ
posted by Gato 1:00 da tarde
PASSE A PUBLICIDADE: Já todos vimos isto: num qualquer programa de televisão, o participante anónimo quer referir o sítio onde trabalha. Mas está embaraçado. Poderá fazê-lo? A medo, refere então que, “PASSE A PUBLICIDADE”, trabalha “na XPTO”.
Algumas notas. Primeiro, eu vejo demasiada televisão.
Segundo, o telespectador português vê programas da manhã e da tarde em quantidades tais, que já interiorizou que não deve falar em marcas.
Terceiro, o que é que o telespectador julga que lhe acontecerá caso se engane e refira mesmo as Doritos em vez de “uma marca de batatas fritas”? Pelo receio com que fala, deve estar à espera de entrar em combustão espontânea. Às vezes, não era mal pensado. E ainda ficávamos com um belo exemplo de “televisão em movimento”.
Quarto (e último, tenham calma). Esta reacção das pessoas é cada vez mais instintiva. Elas não põem em causa o facto de estarem a publicitar alguma marca ou simplesmente a nomear coisas. Apenas consideram que não se deve dizer nomes. De nada. Qualquer dia, ainda assistimos a isto num telejornal – pego agora num tema da moda:
Manuel Luís Goucha – Dr. Pedro Namora, qual é o seu envolvimento neste caso?
Pedro Namora – Bem, eu fui aluno da... Posso dizer? Bem, fui aluno da Casa Pia, passe a publicidade. Fui colega daquele pequeninito. Posso dizer? Passe a publicidade, o Adelino Granja.
PS - Querem um exemplo? Ontem, no café, um jovem pede: "dê-me um ice tea, se faz favor". "Lipton ou Nestea?", pergunta o empregado. "Posso dizer?", diz o jovem. "Passe a publicidade, pode ser o Lipton".
ZDQ
posted by Gato 12:59 da tarde
COME O PAPA: Sou católico praticante (tirando os mandamentos 2 e 4. E o 9, quando estou bêbado). Nesta polémica sobre se o Papa deve ou não resignar, há um aspecto que me faz espécie. O que é que acontece a Carol Woytila se se reformar? Para onde é que vai? Para um lar? Estou a imaginar a cena: o Papa e outros velhinhos, numa sala de estar a ver televisão. Um dos velhinhos fala (grita, portanto):
- Quarenta anos! Fui chófer de praça durante 40 anos! E tu, o que é que fazias?
- Fui Papa.
- Papa? Também não está mal. Mas eu fui chófer de praça! Durante quarenta anos!
Convenhamos que, para alguém que levou tiros e teve um carro com o seu próprio nome, é um anti-clímax. Num dia, Papa é sinónimo de representante de Deus no mundo. No dia seguinte, é só sinónimo de jantar.
ZDQ
posted by Gato 12:53 da tarde
quarta-feira, outubro 29, 2003
TALVEZ UMA LAVAGEM CEREBRAL: Sempre me intrigou o fenómeno que, aos fins-de-semana, me leva a deparar com tantos indivíduos nas estações de serviço a tratarem da higiene dos seus automóveis com um cuidado que, em muitos casos, estou certo supera o rigor que põem na higiene pessoal. A dúvida que me assalta é a seguinte: o que é que esta gente fará durante a semana, que torne uma demorada lavagem do carro numa manhã solarenga de fim-de-semana um programa apetecível? Se calhar há empregos em que as coisas funcionam assim:
Patrão: Ó Antunes, os seus números deste semestre estão muito abaixo dos objectivos.
Antunes: Tem razão, chefe. Nesta altura o mercado está muito complicado.
Patrão: Ah, pois está. Este relatório mostra que os funcionários da nossa concorrência estão a fazer uma média de 6 passeios à praia com a família por semana, 14 visitas a parques infantis e 7 idas ao cinema.
Antunes: Pois... Tenho que me esforçar mais.
Patrão: Também me parece. Isto agora é dar o litro até 6ª feira e, se tudo correr bem, pode ser que não precise de trabalhar no fim-de-semana! Já viu? Talvez até dê para tirar um tempinho para si e ir lavar o carro no Sábado de manhã e tudo... TD
posted by Gato 10:04 da manhã