Gato Fedorento

sábado, setembro 20, 2003

CASAMENTO POR INTERESSE:

- Oliveira, és tu?
- Olha quem é ele! Há quanto tempo é que a gente não se via?
- Desde o teu casamento. A propósito, como é que estão os pombinhos?
- Divorciámo-nos.
- Divorciaram-se? Mas pareciam tão felizes juntos...
- Olha, para te dizer a verdade, nunca gostei muito da Carolina.
- Não?
- Nem um pouco.
- Então, porque é que te casaste com ela?
- Eh pá, eu até tenho vergonha de te dizer isto...
- Não sejas parvo! A gente conhece-se desde a faculdade. Além disso, sabes que eu não conto a ninguém.
- Olha, casei por interesse, pronto. Não precisas de dizer nada. Eu sei que costumava ser contra esse tipo de golpadas.
- Mas eu nem sequer sabia que a tua mulher tinha dinheiro.
- E não tem.
- Mas tu disseste que casaste com ela por interesse.
- Sim, eu sei. Mas isso foi por causa da biblioteca.
- Da biblioteca?
- Sim. Tu tens que ver a biblioteca que ela herdou do bisavô: nem que eu vivesse quinhentos anos, conseguia juntar tanto livro.
- Espera aí! Tu estás-me a dizer que casaste com a Carolina por causa dos livros que ela tem?
- Sim, eu sei que foi uma estupidez. Toda a gente sabe que os livros não trazem felicidade. Mas lá que ajudam...


MG
posted by Gato 1:55 da tarde

quinta-feira, setembro 18, 2003

EMPATA PASSEIOS, PARA QUANDO LEGISLAÇÃO? Para quem calcorreia as ruas portuguesas existem vários tipos de irritações causadas por co-peões.
Há tempos, descobri aqui alguém que partilha comigo a aversão às pessoas que circulam no passeio a uma velocidade inferior, não deixando o transeunte mais rápido progredir.
Calculo que seja o desprezo por esse género de gente (ou sub-género, dependendo do meu atraso) que faz o blogador não se espraiar numa catalogação dos diferentes tipos de prevaricadores e suas azelhices ao caminhar, reunindo-os num geral “pessoas de passo mais lento que têm a audácia de se colocarem no meio dos passeios”. Felizmente, mais do que desprezo, nutro ódio (e alguma curiosidade sociológica).
Sim, porque de entre todos os que se arrastam pelas calçadas deste país, há diferentes tipos de pastelões que importa referir.
Começamos por um clássico. As velhas (ou velhos) que andam devagar pelo meio do passeio e que, sendo surdas, não ouvem o “côlicença fáchavor”. Ah, e não esquecer a nuance: caminham sempre na diagonal, como um cavalo de alta escola, impedindo a ultrapassagem durante mais metros do que os necessários. Tenho uma no meu bairro – a minha némesis, posso dizer – a quem já pensei pôr pedras no bolso direito do casaco, a ver se endireita o caminho. No fundo, são as comunistas do empedrado: traçaram o caminho, não ouvem ninguém e, mais cedo ou mais tarde, hão-de lá chegar, mesmo tergiversando um bocadinho.
Depois, os homens (ou mulheres) que passeiam o cão com uma trela extensível e que, afastando-se o canito para o outro lado do passeio, criam um cordão que obriga quem quer ultrapassar a saltar ou a dar a volta – duas situações em que me sinto sempre ridículo, especialmente porque o dono está encostado à parede a fumar ou a vender droga. Sim, é um bairro tramado.
As pessoas (ou crianças) que encontram alguém conhecido exactamente à entrada de um sítio e ficam a conversar na soleira da porta, impedindo o fluxo normal de entradas e saídas. Isto pode ser agravado se alguma delas for velha. Ou tiver um cão. (nestes casos, não é só uma coincidência tramada, pode mesmo ser Satanás).
Temos ainda os grupos (de 3 ou mais pessoas) que andam lado a lado – às vezes de braço dado – como se de uma ala de coristas se tratasse. Ainda por cima, se o passeio é mesmo estreito e temos de romper a formação, fulminam com um olhar de quem diz “não vês que estamos a ensaiar “A Chorus Line?” Não estou a inventar. As minhas vizinhas trauteiam de cor o "One".
Finalmente, a mulher (não, homens não, só mulheres) que estanca no meio da rua se passou por uma montra. Ia dizer “montra que goste”, mas poça, normalmente é uma montra qualquer. São perigosas. Sem aviso, o transeunte depara-se com um obstáculo difícil de contornar – até porque, ao lado, está sempre uma velha. Além disso, muitas delas, não contentes com a paragem súbita, dão ainda um passo atrás! Um tipo vai-se a desviar, mas mesmo assim não evita o embate. Isto, meus amigos, já não é negligência! Isto é crime!
O que acabei de inventariar é uma lista de “empata passeios”. Não deixam passar. São parvos.
Em breve postarei aqui sobre outro tipo de fenómeno pedonal que me repugna na mesma medida em que me fascina: a “caminhada sincronizada”. Porque vivemos uma guerra civil nas ruas de Portugal. Pelo menos, eu vivo. ZDQ
posted by Gato 2:04 da manhã

POR UM TERRORISMO PACIFISTA: Uma das razões que me move contra o terrorismo é o facto de, na maior parte das vezes, ele ser profundamente mal-intencionado. Mas, ao analisarmos fria e racionalmente as suas consequências, chegamos à conclusão que o terrorismo, sem o saber, acaba por contribuir para minorar um dos principais problemas a nível mundial: a sobrepopulação. Sob esse prisma, os terroristas auxiliam as sociedades que pretendem prejudicar. É, portanto, chegado o momento de rever a própria lógica do atentado. Estou consciente de que, à primeira vista, pode ser bizarro, mas, em vez de matar, não será mil vezes mais doloroso, para um Estado que está a rebentar pelas costuras, o acto terrorista provocar dezenas, centenas ou (e aqui já entramos no terrorismo de grande escala, só ao alcance de um Roberto Carneiro) milhares de partos?
Imaginemos a ETA a aderir a este novo conceito. A notícia de abertura do telejornal seria qualquer coisa deste género: “Boa noite. Nove meses depois, a tragédia regressa às ruas de Madrid. A ETA voltou a atacar, no centro da capital. Nasceram 60 pessoas e 8 estão em estado crítico, podendo ainda vir a nascer nas próximas horas. O governo já reagiu: Aznar anunciou que, no âmbito da luta anti-terrorista, o exército espanhol vai adquirir mais contraceptivos”.
Relativamente ao IRA, também a violência podia ser evitada, e fazendo mais mossa no orgulho britânico. É conhecida a obsessão dos ingleses pela pontualidade. Haverá ataque mais cruel do que atrasar deliberadamente o expresso Gatwick-Londres das 17:37 de forma a que ele parta apenas às 17:38? Todos os estudos indicam que é incalculável o número de suicídios que essa sabotagem sui generis causaria nos comutters.
Em Portugal, é pouco crível que possam surgir movimentos terroristas reclamando autonomia ou independência. Os leitores perguntarão: “E a Madeira?” Pois bem, vou demonstrar o porquê da impossibilidade de um movimento terrorista na Madeira. Posso conceder que esse movimento pudesse ser fundado. Com alguma sorte, até se podia dar início ao fabrico de Cocktails Molotov. Mas, antes que alguém os pudesse lançar, já o Alberto João Jardim os teria bebido todos. MG
posted by Gato 12:11 da manhã

terça-feira, setembro 16, 2003

BONECA HISTÓRICA: O cantor Elton John vai leiloar todo o conteúdo da sua casa de Londres. Para os interessados, é uma boa oportunidade de arrematar mobiliário do século XIX, bronzes italianos e o objecto que a Sotheby’s considera o mais valioso da colecção, dado ser uma absoluta raridade: uma boneca insuflável, que a casa de leilões garante ter sido experimentada pelo cantor uma vez, no início dos anos 70. TD
posted by Gato 12:04 da manhã

segunda-feira, setembro 15, 2003

COMO É? Saio deste Verão com uma dúvida existencial alimentar. Como é que se chamam às gambas fritas em azeite? Até ao momento, contei cerca de 17 grafias diferentes para o petisco. Desde a alfinetada que dá um “al aguilho”, passando pelas duvidosas qualidades futebolísticas “ao alhinho”, até ao canto de rolas para onde remetem umas gambas “al arrilho”, parece que a criatividade dos donos das tascas onde como é inversamente proporcional à higiene das suas casas de banho.
As minhas favoritas continuam a ser: em gambas, as saborosas “ao laguinho”, numa casa de pasto ali à Praia das Maçãs. Em casas de banho, a taberna do Sr. Joaquim, na Ericeira. Que, curiosamente, também tem um “laguinho”.
Não haverá, num dos supérfluos organismos estatais, alguém que tenha por missão zelar pela uniformização? Já todos fomos confrontados pelas listas de pastelaria “oficiais” que designam galões, meias-de-leite ou sandes com afiambrado. Porque não uma lista destas para o marisco?
A disparidade de nomes cria-me um problema. Na hora de mandar vir o acompanhamento para a cerveja, nunca sei como encomendar as ditas gambas. É um trauma que tenho. Enquanto a maioria dos blogadores temem – e bem – a gralha escrita, eu tenho pânico de errar a fonética das palavras (sim, é estúpido, mas acontece). Por isso, raramente uso a palavra rubrica, por exemplo, e uma data de palavras em estrangeiro.
Tenho uma teoria. A confusão foi lançada pelos vendedores de amêijoa. É que eu, mesmo adorando umas boas gambas al... ao..., daquela maneira, acabo sempre por pedir amêijoas à Bulhão Pato. ZDQ

posted by Gato 10:02 da tarde

YOU CAN CALL ME AL-MERDAS: Mário Carneiro, meu antigo professor, actual director do canal TV Medicina e, de um modo geral, grande senhor da comunicação, escreveu-nos:

«Conforme saberás a Barbie foi considerada "boneca non grata" pelas autoridades sauditas. Nada de muito grave ou particularmente injusto na decisão não se desse o caso dela ser apoiada no site da CNN pelo "Sheik Abdulla al-Merdas" (dissipa a tua incredulidade aqui).
Ora não será de um al-Merdas destes que nós precisamos por cá? Faz-me o favor de iniciar a campanha a favor da naturalização deste Sheik com vista à sua integração:
– na nossa selecção nacional. Imagina o potencial para manchetes: "A selecção de Al-Merdas", "Al-Merdas brilha no apronto", "Al-Merdas reina na selecção", "Madaíl defende Al-Merdas"; "Scolari convoca Al-Merdas" e por aí fora;
– nos reality shows : "Big Brother: Al-Merdas resiste à expulsão " (saca-se logo o patrocínio de um laxante);
– na vida política : "Al-Merdas dá o nome a ETAR".»


Parece-me uma campanha com potencial e interesse público. Mas discordo da inclusão de um Al-Merdas na vida política. Tal como Giovanni Sartori e Robert Dahl tiveram oportunidade de sublinhar, boa parte da graça da democracia está na possibilidade de insultar os titulares de cargos públicos com imaginação e maldade. Se tivermos um político chamado Al-Merdas, os insultos passam a ser, digamos, algo denotativos. RAP
posted by Gato 12:52 da tarde

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Um blog com opiniões, nenhuma das quais devidamente fundamentada. Mantido por: Tiago Dores, Miguel Góis, Ricardo de Araújo Pereira e Zé Diogo Quintela. E-mail: gatofedorento@hotmail.com

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